Nota: Essa é uma versão revisada de 5 volumes desse livro que aparece em Morrowind, Oblivion, e Skyrim. A versão original de A Verdadeira Barenziah, que apareceu em Daggerfall, continha 10 volumes, e também continha uma passagem censurada envolvendo o encontro de Barenziah com um Khajiit macho em uma estalagem, que foi removida da passagem de 5 volumes. Mesmo assim, a versão de 5 volumes é mais cumprida que a versão de 10 volumes, devido a muitos detalhes extras acrescentados as volumes, e em particular vários parágrafos adicionais em A Verdadeira Barenziah, v 5, comparado ao original A Verdadeira Barenziah, Part X. “Aqueles interessados na vida da Rainha Barenziah podem também querer ler a Biografia da Rainha Barenziah (ou a versão de Daggerfall em Biografia da Rainha Barenziah), que é uma versão curta e santificada da vida dela, escrita pela Escriba Imperial.
Parte 1
Quinhentos anos atrás em Forte da Lamentação, Cidade de Gemas, vivia uma viúva cega e seu único filho, um alto e robusto homem jovem. Ele era um minerador, assim como seu pai, um trabalhador comum nas minas do Lorde de Forte da Lamentação, pois sua habilidade com magia era pequena. O trabalho era honroso, mas mal pago. Sua mãe fazia e vendia bolos de comberry no mercado da cidade para ajudar a bancar a casa. Eles viviam bem o bastante, ela dizia, eles tinham o bastante para encher as barrigas, ninguém podia vestir mais de uma peça de roupa por vez, e o telhado pingava só quando chovia. Mas Symmachus gostaria de mais. Ele esperava por um golpe de sorte nas minas, que o garantiria um grande bônus. Em suas horas vagas ele gostava de beber uma taça de cerveja na taverna com seus amigos, e apostar com eles em jogos de cartas. Ele também atraia os olhares de mais que algumas elfas bonitas, mas nenhuma mantinha seu interesse por muito tempo. Ele era um típico Elfo Negro jovem de descendência camponesa, notável apenas por seu tamanho. Haviam rumores de que ele também possuía um pouco de sangue Nord em si.
No trigésimo ano de Symmachus houve uma grande alegria em Forte da Lamentação – uma garota havia nascido do Senhor e da Senhora. Uma rainha, o povo cantava, uma rainha nasceu para nós! Dentre o povo de Forte da Lamentação, o nascimento de uma herdeira é sinal certo de um futuro de paz e prosperidade.
Quando chegou a hora para o Rito de Nomeação da criança real, as minas foram fechadas e Symmachus correu para casa para tomar banho e vestir sua melhor roupa. “Vou correr direto pra casa e te contar tudo sobre”, ele prometeu a sua mãe, que não poderia comparecer. Ela esteve doente, e também havia uma grande concentração de pessoas já que toda Forte da Lamentação iria comparecer para ser parte do evento abençoado; e por ser cega ela não ia conseguir ver nada de qualquer forma.
“Meu filho” ela disse. “Antes de ir, me mande um curandeiro ou sacerdote, ou eu posso ter assado do plano mortal quando você voltar”.
Symmachus pegou sua lingueta e notou que sua testa estava muito quente e sua respiração fraca. Ele tirou do lugar uma tábua do piso de madeira sob a qual suas economias eram escondidas. Não havia quantia nem perto do suficiente para pagar um sacerdote por cura. Ele teria de dar tudo que tinha e ficar devendo o resto. Symmachus colocou o dinheiro no casaco e correu para a rua.
As ruas estavam cheias de pessoas indo para a gruta sagrada, mas os templos estavam trancados e barrados. “Fechado para a cerimônia”, lia-se em todos os avisos.
Symmachus se espremeu para passar no meio da multidão para falar com um sacerdote de vestes marrons. “Após o rito, irmão”, disse o sacerdote, “se você tiver o dinheiro atenderei sua mão com prazer. Milorde proibiu todos os clérigos de realizar atendimentos – e eu, por ser um, não possuo intenções de ofendê-lo.”
“Minha mãe está desesperadamente doente,” Symmachus suplicou. “Com certeza Milorde não dará falta de um único sacerdote.”
“Verdade, mas o Arcônego irá,” o sacerdote saiu nervoso, puxando suas vestes das mãos desesperadas de Symmachus e desapareceu na multidão.
Symmachus tentou outros sacerdotes, e até mesmo alguns magos, mas sem melhor resultado. Guardas com armaduras marchavam pela rua e o empurravam para o lado com suas lanças, e Symmachus percebeu que a procissão real estava se aproximando.
Enquanto a carruagem que carregava os governantes da cidade passava, Symmachus correu através da multidão e gritou, “Milorde, Milorde! Minha mãe está morrendo-!”
“Eu a proíbo de fazer isso nessa noite gloriosa!” o Senhor gritou, rindo e jogando moedas na multidão. Symmachus estava perto o bastante para sentir o cheiro de vinho no hálito real. No outro lado da carruagem a Senhora segurava o bebê perto de seu seio, e encarou Symmachus com os olhos cerrados, narinas queimando em desdém.
“Guardas!” ela gritou. “Retirem esse imbecil.” Mãos agarraram Symmachus. Ele foi espancado e deixado na beira da rua.
Symmachus, com a cabeça doendo, seguiu o barulho da multidão e presenciou o Rito de Nomeação do topo de uma colina. Ele podia ver os clérigos de vestes marrons e os magos de azul juntos próximos da alta classe.
O nome chegou vagamente às orelhas de Symmachus enquanto o Sumo Sacerdote erguia a recém nascida e a apresentava para as luas gêmeas em ambos os lados do horizonte: Jone se erguendo, Jode se pondo.
“Eis Lady Barenziah, nascida da terra de Forte da Lamentação! Confiram-na tuas bênçãos e teus conselhos, ó deuses reis, que ela possa sempre governar sobre Forte da Lamentação, seu povo e seu bem-estar, seus amigos e sua laia.”
“Abençoe-a, abençoe-a,” todo o povo entoou junto com os Senhores, mãos erguidas.
Apenas Symmachus permaneceu em silêncio, sabendo em seu coração que sua querida mãe havia partido. E em silêncio ele jurou uma promessa solene – que ele seria a maldição do Senhor, e em vingança pela morte desnecessária de sua mãe, ele teria a criança Barenziah como sua esposa, e os netos de sua mãe nasceriam para governar Mournhold.
Após a cerimônia, ele assistiu impassível a realeza retornar ao palácio. Ele viu o sacerdote com que havia falado primeiro. O homem veio até ele contente o bastante com o dinheiro que receberia de Symmachus agora, e a promessa de mais depois.
Eles encontraram a mãe dele morta.
O sacerdote suspirou e soltou a bolsa de moedas. “Sinto muito, irmão. Está tudo bem, você pode esquecer o restante do dinheiro, tem algo que posso fazer de qualquer modo. Como-”
“Me dê meu dinheiro de volta!” Symmachus rosnou. “Você não fez nada para ganhar ele!” Ele ergueu seu braço direito como ameaça.
O sacerdote deu um passo para trás, prestes a recitar uma maldição, mas Symmachus o acertou no rosto antes que mais de três palavras pudessem sair de usa boca. Ele caiu pesado, batendo a cabeça com força em uma das pedras que formavam a lareira. Ele morreu instantaneamente.
Symmachus catou o dinheiro e fugiu da cidade. Enquanto ele corria ele sussurrava uma palavra após a outra, como o encantamento de um feiticeiro “Barenziah,” ele dizia. “Barenziah. Barenziah.”
Barenziah estava em uma das varandas do palácio, encarando o pátio abaixo onde os soldados se agrupavam, deslumbrantes em suas armaduras. Eles estavam em formação de acordo com seus ranques enquanto seus pais, Senhor e Senhora, emergiam do palácio, trajados da cabeça aos pés em armadura de ébano, longos casacos de pele tingidos de roxo caindo em suas costas. Esplêndidos e brilhantes cavalos negros eram trazidos até eles, e eles montaram e cavalgaram até os portões do pátio, e se viraram para despedir dela.
“Barenziah!” eles gritaram. “Barenziah nossa querida, adeus!”
A jovem garota derramou lágrimas e balançou uma das mãos bravamente, seu bichinho de pelúcia favorito, um lobo cinza que ela chamava de Wuffen, agarrado ao seu peito com a outra mão. Ela nunca esteve longe de seus pais até então e não fazia ideia do que significava, exceto de que havia guerra no oeste e o nome Tiber Septim estava na boca de todos, falado em ódio e medo.
“Barenziah!” os soldados gritavam, erguendo suas lanças e espadas e arcos. Então seus queridos pais se viraram e partiram, com cavaleiros os seguindo, até que o pátio estivesse quase vazio.
Algum tempo depois chegou o dia em que Barenziah foi acordada com sua cuidadora a balançando, vestida as presas, sendo tirados do palácio.
Tudo que ela conseguia lembrar era de ver uma grande sombra com olhos ardentes voando no céu. Ela foi passada de mão em mão. Soldados estrangeiros apareciam, desapareciam, e algumas vezes reapareciam. Sua cuidadora desapareceu e foi substituída por estranhos, alguns mais estranhos que os outros. Foram dias, ou talvez semanas, de viagem.
Em uma manhã ela acordou em um lugar frio com um castelo grande de pedra cinza em uma colina de verde sem fim, vazia, coberta de neve cinza clara. Ela apertou Wuffen em seu peito com ambas as mãos e ficou parada em meio ao amanhecer cinza, se sentindo muito pequena e muito escura nesse espaço sem fim, esse espaço cinza claro sem fim.
Ela e Hana, uma empregada de cabelos pretos e pele marrom que viajou com ela com muitos dias, foram para dentro do castelo. Uma mulher grade de pele cinza clara e cabelos brancos estava no centro de um dos cômodos. Ela encarou Barenziah com seus olhos azuis.
“Ela é muito – escura, não?” a mulher disse a Hana. “Eu nunca vi um Elfo Negro antes.”
“Eu não sei muito sobre eles também, Mileide,” disse Hana. “Mas essa tem cabelo ruivo e um temperamento comparável, eu posso te dizer. Tome cuidado. Ela morde. E pior.”
“Eu logo a farei sair dessa,” disse a outra mulher. “E o que é essa coisa nojenta que ela está carregando? Ugh!” a mulher tomou Wuffen e o jogou no centro da lareira.
Barenziah gritou, e teria corrido até ele, mas foi segurada, mesmo com suas tentativas de morder e unhar seus sequestradores. Pobre Wuffen foi reduzido a uma pequena pilha de cinzas.
Barenziah cresceu como uma planta estrangeira plantada em um jardim de Arcéu sob a guarda do Conde Sven e sua esposa Lady Inga. Externamente, isso é, ela prosperou – mas sempre houve um espaço vazio e frio dentro de si.
“Eu a eduquei como se fosse minha própria filha,” Lady Inga gostava de dizer enquanto fofocava para as damas vizinhas quando a visitavam. “Mas ela é um Elfo Negro. O que se pode esperar?”.
Barenziah não deveria ouvir essas palavras. Pelo menos ela acreditava que não. Sua audição era mais aguda do que a dos seus hospedeiros Nórdicos. Outros traços de Elfo Negro menos desejável incluíam furtos, mentiras, uma magia mal-intencionada, apenas um pequeno fogo aqui e um pequeno feitiço de levitação ali. E, conforme ela crescia, um interesse agudo em garotos e homens, que podia prover sensações bastante prazerosas – e para seu espanto, presentes também. Inga desaprovava esse último por razões incompreensíveis para Barenziah, então ela tomava o cuidado de manter segredo.
“Ela é maravilhosa com as crianças,” Inga acrescentava, se referindo a seus cinco filhos, todos mais novos do que Barenziah. “Não acho que ela deixaria que eles se machucasse.” Um tutor havia sido contratado quando Jonni tinha seis e Barenziah oito, e eles tinham aula juntos. Ela teria gostado de treinar com armas também, mas a própria ideia escandalizada Conde Sven e Lady Inga. Então foi dado a Barenziah um pequeno arco e foi permitido que ela treinasse tiro-ao-alvo com os meninos. Ela assistia eles nas aulas de combate armado quando podia, treinava com eles quando não havia nenhum adulto por perto, e ela era tão boa quanto ou até melhor que eles.
“Ela é muito... orgulhosa, não?” uma das damas sussurrava para Inga; e Barenziah, tentando não ouvir, acenaria silenciosamente em concordância. Ela não conseguia deixar de se sentir superior a seu Conde e sua Lady. Havia algo sobre eles que provocava desprezo.
Depois ela descobriu que Sven e Inga eram primos distantes dos últimos donos do Castelo Charconegro e ela finalmente entendeu. Eles eram impostores, não governantes de fato. Pelo menos, eles não foram educados para governar. Esse pensamento a deixou estranhamente furiosa com ele, uma boa e limpa raiva um tanto independente do ressentimento. Ela começou a vê-los como insetos nojentos e repugnantes que podiam ser menosprezados, mas nunca temidos.
Uma vez por mês um mensageiro vinha do Imperador, trazendo uma pequena bolsa de ouro para Sven e Inga e uma grande sacola com cogumelos secos de Morrowind para Barenziah, seu doce favorito. Nessas ocasiões, ela sempre tinha uma aparência mais apresentável – ou pelo menos tão apresentável quanto um Elfo Negro magro poderia ser feito aos olhos de Inga - antes de ser chamada na presença do mensageiro para uma curta entrevista. O mesmo mensageiro raramente vinha duas vezes, mas todos a olhavam do mesmo jeito que um fazendeiro olharia para um porco que pretende comprar.
Na primavera de seu decimo sexto aniversário, Barenziah pensou que o mensageiro a olhou como se já estivesse apta para a compra.
Após refletir, ela decidiu que não queria ser vendida. O garoto dos estábulos, Straw, um rapaz grande, forte e loiro, desajeitado, cavalheiro, carinhoso, e de modos simples, estava pedindo a ela para correr já haviam algumas semanas. Barenziah roubou a bolsa de ouro que o mensageiro havia deixado, pegou os cogumelos da dispensa, se vestiu como um menino em uma das túnicas velhas de Jonni e um par de seus sapatos que ele rejeitou... e em uma bela noite de primavera ela e Straw pegaram os melhores cavalos dos estábulos e cavalgaram rápida pela noite em direção a Passo Branco, a cidade mais próxima com importância e o lugar em que Straw queria estar. Mas Forte da Lamentação e Morrowind também estavam para o leste e eles atraiam Barenziah como magnetita atrai ferro.
Na manhã eles abandonaram os cavalos pela insistência de Barenziah. Ela sabia que dariam falta e os procurariam, e ela esperava despistar qualquer perseguidor.
Eles continuaram a pé até a tarde, se mantendo em estradas secundárias, e dormiram por várias horas em uma cabana abandonada. Quando o sol se punha eles seguiram e chegaram em Passo Branco pouco antes do amanhecer. Barenziah havia preparado uma espécie de passaporte para Straw, um documento forjado referindo a assuntos no templo local para um proprietário de terras. Ela mesma deslizou pelos muros com a ajuda de um feitiço de levitação. Ela pensou certo, já que ocorria que agora os guardas estavam alertas para uma jovem Elfa Negra e um garoto Nórdico viajando juntos. Em contrapartida, viajantes solitários como Straw eram algo comum. Sozinho e com seus papéis, era improvável que ele fosse chamar atenção.
Seu plano simples ocorreu suavemente. Ela encontrou Straw no templo, que não era muito longe do portão; ela havia ido a Passo Branco em algumas poucas ocasiões anteriores. Straw, contudo, nunca esteve mais do que algumas milhas da propriedade de Sven, que era seu local de nascença.
Juntos eles foram até uma estalagem no bairro mais pobre de Passo Branco. Com luvas, capa e capuz para proteger da manhã gelada, a peles escura de Barenziah e seus olhos vermelhos não eram aparentes e ninguém prestava atenção neles. Eles entraram na estalagem separadamente. Straw pagou por um único quarto, uma refeição imensa, e duas taças de cerveja. Barenziah entrou furtivamente alguns minutos depois.
Eles comeram e beberam juntos felizes, alegres com sua fuga, e fizeram amor vigorosamente na cama estreita. Depois eles caíram em um sono exausto e sem sonhos.
Eles ficaram em Passo Branco por uma semana. Straw ganhou um pouco de dinheiro fazendo entregas e Barenziah roubou algumas casas durante a noite. Ela continuava a se vestir como um garoto. Ela cortou seu cabelo curto e tingiu suas tranças vermelhas de preto para aumentar o disfarce, e ficou o mais longe de vista que conseguiu.
Um dia Straw conseguiu trabalho para eles como guardas temporários para uma caravana de mercadores viajando para o leste. O sargento de um braço só olhou para ela duvidosamente.
“Heh,” ele riu, “Elfo Negro, né? Como mandar um lobo cuidar das ovelhas, isso sim. Mas, preciso de braços, e não vamos perto o bastante de Morrowind para trair a gente pro seu povo. Os bandidos aqui iam preferir bem mais cortar sua garganta no lugar da minha.”
O sargento se virou para avaliar Straw. Então ele se virou abruptamente para Barenziah, tirando sua espada curta. Mas ela tirou sua adaga num piscar de olhos e estava em posição de defesa. Straw tirou sua própria faca e circulou o homem. O sargento soltou sua lâmina e riu novamente.
“Nada mal crianças, nada mau. Como que você se vira com esse seu arco, Elfo Negro?” Barenziah demonstrou brevemente suas habilidades. “Eh, nada mau, nada mau mesmo. Você vai ficar de olho durante a noite, garoto, e ouvindo o tempo todo. Um Elfo Negro confiável faz um soldado tão bom quanto se possa pedir. Sabe, eu já servi sob o comando de Symmachus antes de perder um braço e ficar inválido para o exército do Imperador.”
“Podíamos trair eles. Sei de gente que pagaria bem,” disse Straw mais tarde enquanto eles se deitavam para sua última noite na cabana. “Ou roubar eles nós mesmos. Eles são muito ricos, aqueles mercadores, Berry.”
Barenziah riu. “O que nós faríamos com tanto dinheiro? E também, nós precisamos da proteção deles para viajar quase tanto quanto eles precisam da nossa.”
“Podíamos comprar uma fazendinha, você e eu, Berry – nos instalar, tudo tranquilo.”
Camponês! Barenziah pesou desdenhosamente. Straw era um camponês e hospedeiro, nada mais que sonhos camponeses. Mas tudo o que ela disse foi, “Não aqui Straw, estamos muito perto de Charconegro ainda. Vamos ter outras chances mais para o leste.”
A caravana viajou leste apenas até Solgrado. O Imperador Tiber Septim I havia feito bastante no quesito de construir rodovia relativamente seguras e regularmente patrulhadas. Mas os pedágios eram exorbitantes, e essa caravana em particular se mantinha mais nas estradas secundárias quanto fosse possível para evita-los. Isso os expos a vários ladrões, tanto humanos quanto Orcs, e grupos de bandidos de várias raças. Mas tais eram os perigos de comércio e lucro.
Eles tiveram dois contratempos antes de chegar em Solgrado – uma emboscada que os ouvidos aguçados de Barenziah os alertou bem a tempo de contornar e surpreende-los, um ataque noturno de um bando misturado de Khajiit, humanos e Elfos da Floresta. O último foi um bando habilidoso e nem mesmo Barenziah ouviu eles se aproximarem a tempo de dar um alerta. Dessa vez a luta foi voraz. Os atacantes foram derrotados, mas dois dos outros guardas da caravana foram mortos e Straw ganhou um grande corte na coxa antes de ele e Barenziah conseguirem cortar a garganta do Khajiit assaltante.
Barenziah até gostava de sua vida. O sargento tagarela passou a gostar dela, e ela passava a maior parte das noites sentada em torno da fogueira, ouvindo as histórias da guerra em Morrowind com Tiber Septim e o General Symmachus. Esse Symmachus virou general após a queda de Forte da Lamentação, disse o sargento. “Ele é um bom soldado, garoto, Symmachus eu quero dizer. Mas havia mais do que assuntos de soldado envolvidos naqueles negócios de Forte da Lamentação, se é que você me entende. Mas, é claro, você deve saber tudo sobre isso, eu suspeito.”
“Não. Eu não me lembro,” disse Barenziah, tentando soar indiferente. “Eu vivi a maior parte da minha vida em Arcéu. Minha mãe se casou com um cara de Arcéu. Os dois morreram, infelizmente. Me diga, o que aconteceu com os Senhores de Forte da Lamentação?”
O sargento deu de ombros. “Eu nunca ouvi. Mortos, eu suspeito. Teve muita luta antes de o Armistício ser assinado. Está bem tranquilo agora. Talvez quieto demais. Como uma calmaria antes da tempestade. Diga, garoto, você está voltando para lá?”
“Talvez,” disse Barenziah. A verdade é que ela era atraída irresistivelmente por Morrowind, e Forte da Lamentação, como uma mariposa por uma casa em chamas. Straw sentiu e não estava feliz com isso. Ela estava infeliz de toda forma já que não podiam se deitar juntos, já que ela deveria ser um garoto. Barenziah até que sentia falta também, mas não tanto quanto Straw, aparentemente.
O sargento queria que eles se inscrevessem para outra viajem, mas deu a eles um bônus mesmo depois de recusarem a oferta, e documentos de recomendação.
Straw queria que eles se instalassem permanentemente perto de Solgrado, mas Barenziah insistia em continuar viajando para o leste. “Eu sou a Rainha de Forte da Lamentação por direito,” ela dizia, incerta de se era mesmo verdade – ou foi apenas um sonho que ela fez quando era uma criança perdida e confusa? “Eu quero ir para casa. Eu tenho que ir para casa.” Isso pelo menos era verdade.
Após algumas semanas eles conseguiram lugar em uma outra caravana indo para o leste. No início do inverno eles estavam em Fendal, e próximos da fronteira de Morrowind. Mas o clima havia ficado severo conforme os dias passavam e lhe disseram que nenhuma caravana partiria até a metade da primavera.
Barenziah estava encima dos muros da cidade e encarava o profundo desfiladeiro que separava Fendal da cadeia de montanhas nevada que guardavam Morrowind.
“Berry,” Straw disse gentilmente. “Forte da Lamentação está ainda muito longe, praticamente a distância que já percorremos. E as terras no caminho são selvagens, cheias de lobos e bandidos e Orcs e coisa ainda pior. Vamos ter que esperar até a primavera.”
“Ali está a Torre Silgrod,” disse Berry, se referindo ao vilarejo de Elfos Negros que cresceu entorno de uma antiga minarete na fronteira entre Arcéu e Morrowind.
“Os guardas da ponte não vão me deixar passar, Berry. São tropas Imperiais. Eles não podem ser subornados. Se você for, irá sozinha. Eu não vou tentar te impedir. Mas o que você irá fazer? A Torre Silgrod é cheia de soldados Imperiais. Você vai virar uma lavadeira para eles? Ou uma seguidora de acampamento?”
“No,” Barenziah disse devagar, pensativa. Na verdade, a ideia não era totalmente assustadora. Ela tinha certeza que poderia ganhar uma vida modesta dormindo com os soldados. Ela teve algumas aventuras desse tipo enquanto atravessavam Skyrim, quando ela se vestia como mulher e escapava de Straw. Ela procurava por um pouco de variedade. Straw era doce, mas maçante. Ela ficou surpresa, mas extremamente feliz, quando um homem com que ela ficou a ofereceu dinheiro depois. Straw ficou infeliz com isso, contudo, e ficaria gritando com ela por dias caso a pegasse fazendo isso. Ele era meio ciumento. Ele até ameaçaria largar ela. Não que ele já tenha largado. Ou conseguiria.
Mas os Guardas Imperiais eram durões e brutais, e Barenziah ouviu algumas histórias bem nojentas em sua viajem. A mais nojenta delas de longe veio da oca de um veterano do exército na fogueira da caravana, e foi orgulhosamente recontada. Eles estavam tentando amedrontar ela e Straw, ela pensou – mas ela também compreendia que havia alguma verdade por detrás das histórias selvagens. Straw odiava aquele tipo de conversa suja, e odiava mais que ela tinha que ouvir. Mas uma parte dele que ficava fascinada de toda forma.
Barenziah sentiu isso e encorajou Straw a procurar outra mulher. Mas ele disse que não queria ninguém além dela. Ela disse docemente que não se senti assim sobre ele, mas que ela gostava dele mais do que de ninguém. “Então por que você fica com outros homens?” Straw perguntou em uma ocasião.
"Eu não sei."
Straw suspirou. “Eles dizem que Elfas Negras são assim."
Barenziah sorriu e deu de ombros. “Eu não sei. Ou, não ... talvez eu saiba. Sim, eu sei.” Ela se virou e beijou ele com afeição. “Acho que isso é toda a explicação que existe."
Parte 2
Barenziah e Straw se estabeleceram em Fendal para o inverno, alugando um quarto barato na seção mais barata da cidade. Barenziah queria se juntar a Guilda dos Ladrões, sabendo que haveria problema se pegassem ela fazendo o serviço independentemente. Um dia em um bar ela captou o olhar de um membro conhecido da Guilda, um jovem Khajiit de pelo preto chamado Therris. Ela ofereceu ir para a cama com ele se ele a colocasse na Guilda. Ele a olhou, sorrindo, e concordou, mas disse que ela ainda precisava passar por uma iniciação.
" Que tipo de iniciação?"
" Ah,” disse Therris. “Pague primeiro, docinho."
[Essa passagem foi censurada por ordem do Templo.]
Straw ia matar ela, e talvez Therris também. O que em Tamriel havia possuído ela para fazer tal coisa? Ela lançou olhares apreensivos pelo cômodo, mas os outros clientes haviam perdido o interesse e voltado a suas próprias atividades. Ela não reconheceu nenhum deles; essa não era a estalagem onde ela e Straw estavam hospedados. Com sorte levaria um tempo, ou nunca, antes de Straw descobrir.
Therris era de longe o homem mais animador e atraente que ela já havia encontrado. Ele não apenas ensinou para ela as habilidades necessárias para se tornar uma membra da Guilda dos Ladrões, mas também a treinou nelas ele mesmo ou a apresentou para quem ensinasse.
Dentre esses havia uma mulher que sabia sobre magia. Katisha era uma Nord gorda e matronal. Ela era casada com um ferreiro, tinha dois filhos adolescentes, e era perfeitamente comum e respeitável—exceto pelo fato de que ela gostava muito de gatos (e por associação lógica, seus parentes humanoides, os Khajiit), tinha um talento para certos tipos de magia, e cultivava amigos um tanto estranhos. Ela ensinou Barenziah um feitiço de invisibilidade e outras formas de se furtividade e disfarce. Katisha misturava talentos mágicos e não-mágicos livremente, usando uma parte para melhorar a outra. Ela não era membra da Guilda dos Ladrões mas gostava de Therris de uma forma maternal. Barenziah se tornou próxima dela de forma que nunca havia ficado com nenhuma mulher, e nas próximas semanas, ela contou Katisha tudo sobre si.
Ela levou Straw lá algumas vezes. Straw aprovava Katisha. Mas não Therris. Therris achou Straw “interessante” e falou com Barenziah para fazer algo que ele chamava de “a três.”
“Absolutamente não,” disse Barenziah firmemente, grata que Therris trouxe o assunto em particular. “Ele não gostaria. Eu não gostaria.”
Therris lançou seu sorriso felino triangular e charmoso e deitou preguiçosamente em sua cadeira, esticando seus membros e balançando a calda. “Você pode se surpreender. Vocês dois. Em par é tão chato.”
Barenziah respondeu ele com um olhar penetrante.
“Ou talvez você só não gostaria com seu amigo rústico do interior, docinho. Você se importaria se eu trouxesse outro amigo?”
“Sim, eu iria. Se você está entediado comigo, você e seu amigo podem encontrar outra pessoa.” Ela era membra da Guilda dos Ladrões agora, ela havia passado a iniciação. Ela achava Therris útil, mas não essencial. Talvez ela estivesse um pouco entediada com ele também.
Ela conversou com Katisha sobre seus problemas com homens. Ou o que ela acreditava ser um problema com homens. Katisha balançou a cabeça e a disse que ela estava procurando por amor, e não sexo, que ela reconheceria o homem certo quando ela o encontrasse, que nem Straw nem Therris eram o certo para ela.
Barenziah inclinou a cabeça para um lado. “Eles dizem que Elfas Negras são pro—pro—alguma coisa. Prostitutas?” ela disse, apesar de duvidosa.
“Você quer dizer promíscuas. Apesar de que algumas se tornam prostitutas, eu acho,” Katisha disse, como um pensamento paralelo. “Elfos são promíscuos quando eles são jovens. Mas você vai superar isso. Talvez você já esteja começando a superar,” ela acrescentou, esperançosa. Ela gostava de Barenziah, e ficou bastante próxima dela. “Você deveria conhecer alguns garotos elfos, na verdade. Se você continuar a ser acompanhada por Khajiits e humanos e qualquer outros, você vai acabar grávida logo.”
Barenziah sorriu involuntariamente com esse pensamento. “Eu gostaria disso. Eu acho. Mas seria inconveniente, não seria? Bebê são muito problema, e eu ainda nem tenho uma casa.”
" Quantos anos você tem, Berry? Dezessete? Você ainda tem um ano ou dois antes de ficar fértil, a menos que você seja bem azarada. Elfos não tem filhos com outros elfos com muita facilidade, então, você ficaria tranquila com eles.”
Barenziah se lembrou de outra coisa. “Straw quer comprar uma fazenda e se casar comigo.”
“E é isso que você quer?”
“Não. Não ainda. Talvez algum dia. Sim, algum dia. Mas não se eu não puder ser rainha. E não qualquer rainha. A Rainha de Forte da Lamentação." Ela disse isso determinada, quase teimosa, como se quisesse acabar com qualquer dúvida.
Katisha decidiu ignorar esse último comentário. Ela estava maravilhada pela imaginação hiperativa da garota, e entendeu isso como um sinal de uma mente sadia. “Acho que Straw já vai ser um homem bem velho antes de ‘algum dia’ chegar, Berry. Elfos vivem por muito tempo.” O rosto de Katisha brevemente brandiu um olhar invejoso e triste, que humanos normalmente tem quando contemplando as vidas de milhares de anos que os deuses garantiram aos Elfos. Na verdade, poucos realmente viviam por todo esse tempo devido ao trabalho de doenças e da violência. Mas eles podiam. E um ou dois dele realmente conseguiam.
“Também gosto de homens mais velhos,” Berry disse.
Katisha riu.
Barenziah ficava cada vez mais impaciente enquanto Therris mexia nos papeis na mesa. Ele estava meticuloso e metódico, colocando cuidadosamente de volta no lugar tudo que ele tirava.
Eles haviam invadido a casa de um nobre, deixando Straw do lado de fora para vigiar. Therris havia dito que esse era um trabalho simples, mas que requereria muito silêncio e calma. Ele não quis trazer nenhum outro membro da Guilda com ele. Ele disse que sabia que podia confiar em Berry e Straw, mas em mais ninguém.
“Me diz o que você está procurando e eu vou achar,” Berry suspirou urgentemente. A visão de Therris na noite não era tão boa quanto a dela e ele não queria que ela fizesse nem um pequeno orbe de luz mágica.
Ela nunca havia estado em um lugar tão luxuoso. Nem mesmo o castelo Charconegro do Conde Sven e Lady Inga, onde ela passou sua infância, podia ser comparado. Ela admirou seus arredores enquanto eles desciam as escadas, que geravam muito eco. Mas Therris não parecia interessado em nada além da mesa no estúdio do andar de cima.
“Sssst,” ele sibilou com raiva.
“Tem alguém vindo!” Berry disse, um momento antes da porta se abrir e duas figuras obscuras entrarem na sala. Therris deu um empurrão violento em Barenziah a empurrando em cima deles, enquanto ele corria e pulava a janela. Os músculos de Barenziah ficaram rígidos; ela não conseguia se mexer ou falar. Ela assistiu incapaz enquanto uma das figuras, a menor, pulava atrás de Therris. Houveram dois golpes rápidos de luz azul, então Therris se encolheu imóvel.
O lado de fora da casa se tornou vivo com os passos apressados e vozes gritando alarmes e o som de armaduras colocadas com pressa.
O homem maior, um Elfo Negro pelo que parecia, meio levando, meio arrastou Therris até a porta e o jogou nos braços de outro Elfo. Um movimento da cabeça do primeiro Elfo enviou seu companheiro menor de vestes azuis depois deles. Então ele caminhou até Barenziah para inspeciona-la, que novamente era capaz de se mover, apesar que sua cabeça latejava quando ela tentava.
“Abra sua blusa, Barenziah,” o Elfo disse. Barenziah ficou espantada e segurou os botões da blusa. “Você é uma garota, não é Berry?” ele disse de forma suave. “Você deveria ter parado de se vestir como garoto meses atrás, você sabe. Você estava apenas atraindo atenção para você. E se chamando de Berry! Seu amigo Straw é tão estupido para não lembrar de mais nada?”
“É um nome Élfico comum,” Barenziah defendeu.
O homem balançou a cabeça tristemente. “Não dentre Elfos Negros, minha querida. Mas você não saberia muito sobre Elfos Negros, saberia? Eu me arrependo disso, mas não poderia ajudar. Não importa. Vou tentar fazer valer isso.”
“Quem é você?” Barenziah demandou.
“Eh. Tanto pela fama,” o homem encolheu os ombros, sorrindo ironicamente. “Eu sou Symmachus, Mileide Barenziah. General Symmachus do Exército Imperial de Vossa Incrível e Terrível Majestade Tiber Septim I. E eu devo dizer que foi uma bela busca que você me levou a fazer por Tamriel. Ou essa parte dela, de qualquer forma. Apesar de que supus, e supus corretamente, que você eventualmente se dirigiria para Morrowind. Você teve um bocado de sorte. Um corpo foi achado em Passo Branco que se acreditou ser de Straw. Então nós paramos de procurar pelo par de vocês dois. Isso foi um descuido meu. Mas não pensei que vocês ficariam juntos todo esse tempo.”
“Onde ele está? Ele está bem?” ela perguntava em genuína ternura.
“Ah, ele está bem. Por enquanto. Sob custódia, é claro.” Ele se virou. “Você ... se importa com ele, então?” ele disse, e de repente a encarou com uma curiosidade furiosa. Os olhos vermelhos eram estranhos para ela, exceto que só via assim em seu próprio reflexo.
“Ele é meu amigo,” disse Barenziah. As palavras saíram de um modo que soou estúpido e sem esperança para seus próprios ouvidos. Symmachus! Um general no Exército Imperial, nada menos—e dito possuir a amizade e ouvidos do próprio Tiber Septim.
“Eh. Você parece possuir muitos amigos inadequados—se você perdoa meu dizer, Milady.”
“Pare de me chamar assim.” Ela estava irritada com o sarcasmo do general. Mas ele apenas sorriu.
Enquanto eles conversavam a agitação na casa morreu. Apesar de que ela ainda conseguia ouvir algumas pessoas, provavelmente os residentes, sussurrando juntos não muito longe. O Elfo alto se encostou num dos cantos da mesa. Ela parecia bem à vontade e disposto a ficar um pouco.
Enquanto eles conversavam a agitação na casa morreu. Apesar de que ela ainda conseguia ouvir algumas pessoas, provavelmente os residentes, sussurrando juntos não muito longe. O Elfo alto se encostou num dos cantos da mesa. Ela parecia bem à vontade e disposto a ficar um pouco.
“Ah. Como você sabe, essa casa pertence ao comandante das tropas Imperiais nessa área. O que significa que ela pertence a mim.” Barenziah suspirou e Symmachus a olhou com olhar afiado. “O que, você não sabia? Pff. Porque, você é precipitada, Milady, até mesmo para dezessete. Você sempre deve saber o que você faz, ou em que você está se metendo.”
“M-mas a G-Guilda n-não ... n-não de-deixaria—“ Barenziah estava trêmula. A Guilda dos Ladrões jamais tentaria uma missão que cruzasse política Imperial. Ninguém ousava se opor a Tiber Septim, pelo menos ninguém que ela conhecesse. Alguém na Guilda havia atrapalhado. Muito. E agora ela iria pagar por isso.
“Eu ouso dizer. É estranho que Therris tenha a aprovação da Guilda para isso. Na verdade, eu imagino—‘’ Symmachus examinou a mesa com cuidado, retirando as gavetas. Ele escolheu uma, colocou em cima da mesa, e removeu o fundo falso. Havia uma folha de papel dobrado dentro. Parecia ser um mapa de algum tipo. Barenziah tentou ver mais de perto. Symmachus puxou o papel para longe dela, rindo. “Realmente precipitada!” Ele olhou o papel novamente, então o dobrou e guardou e volta.
“Você me aconselhou agora a pouco para procurar por conhecimento.”
“Disse, sim eu disse.” De repente ele parecia estar com um ótimo humor. “Devemos ir, minha querida Dama.”
Ele a levou até a porta, pelas escadas, e fora noite adentro. Não havia ninguém na rua. Os olhos de Barenziah encaravam as sombras. Ela pensou se poderia escapar dele, ou enganá-lo de alguma forma.
“Você não está pensando em uma tentativa de fuga, está? Eh. Você não quer ouvir primeiro o que são meus planos para você?” Ela pensou que ele soou um pouco magoado.
“Agora que você mencionou—sim.”
“Talvez você prefira ouvir sobre seus amigos primeiro.”
“Não.”
Ele a olhou gratificado. Era evidentemente a resposta desejada, Barenziah pensou, mas também era a verdade. Enquanto ela se preocupava com seus amigos, especialmente Straw, ela estava bem mais preocupada consigo mesma.
“Você tomará seu lugar legítimo como Rainha de Forte da Lamentação.”
Symmachus explicou que aquilo havia sido plano dele, e de Tiber Septim, para ela o tempo todo. Que Forte da Lamentação, que havia estado sob governo militar pelos anos que ela esteve fora, iria gradualmente voltar ao governo civil—sob guia do Império, é claro, e como parte da Província Imperial de Forte da Lamentação.
“Mas porque eu fui enviada para Charconegro?” Perguntou Barenziah, mau acreditando no que havia sido dito a ela.
“Por segurança, naturalmente. Porque você fugiu?”
Barenziah deu de ombros. “Não vi motivos para ficar. Deveriam ter me contado.”
" Você teria sido até esse momento. Eu havia até mandado te enviarem para a Cidade Imperial para passar algum tempo como parte da casa do Imperador, mas é claro que você havia, por se dizer, evadido deles. Quanto ao seu destino, ele deve ser, e deveria ter sido, bastante óbvio para você. Tiber Septim não mantém aqueles que não são úteis para ele – e o que mais você seria que poderia ser útil para ele?”
“Eu não sei nada dele. Nem, pelo jeito, de você.”
“Então saiba isso: Tiber Septim recompensa amigos e inimigos da mesma forma de acordo com suas atitudes.”
Barenziah refletiu nisso por alguns instantes. “Straw tem agido bem comigo e nunca fez mal a ninguém. Ele não é membro da Guilda dos Ladrões. Ele veio junto para me proteger. Ele paga nossa estadia trabalhando, e ele ... ele ...”
Symmachus a calou impaciente. “Eh. Eu sei tudo sobre Straw,” ele disse, “e sobre Therris.” Ele a encarou. “Então? E quanto a você?”
Ela respirou fundo. “Straw quer uma fazendinha. Seu eu foi ser rica, então eu gostaria que uma fosse dada a ele.”
“Tudo bem.” Ele pareceu surpreso com isso, e então satisfeito. “Feito. Ele terá uma. E Therris?”
“Ele me traiu,” Barenziah disse friamente. Therris deveria ter contado a ela quais riscos se envolviam no serviço. Além do mais, ele a jogou direto nas mãos dos inimigos em uma tentativa de se salvar. Não era alguém de se recompensar. Nem, de fato, alguém de se confiar.
“Sim. E?”
“Bem, ele deveria sofrer por isso ... não deveria?”
“Isso parece razoável. De que forma tal sofrimento deveria ser causado?”
Barenziah cerrou os punhos. Ela teria gostado de morder e unhar o Khajiit ela mesma. Mas considerando a reviravolta dos eventos, isso não parecia muito a atitude de uma rainha. “Chicote. Er... você acha que vinte chicotadas seriam muito? Não quero causar nele nenhuma ferida permanente, sabe. Apenas ensinar uma lição.”
“Eh. É claro.” Symmachus sorriu com isso. Então esses traços de repente sumiram, e ele ficou sério novamente. “Será feito, Vossa Alteza, Mileide Rainha Barenziah de Forte da Lamentação.” Então ele fez uma reverência a ela, uma extensa, cordial, ridiculamente incrível reverência.
O coração de Barenziah pulou.
Ela ficou dois dias na casa de Symmachus, durante os quais ela foi mantida bastante ocupada. Havia uma Elfa Negra chamada Drelliane que cuidava de suas necessidades, apesar de que ela não parecia uma serva já que ela tinha suas refeições junto com eles. Mas também não parecia ser esposa de Symmachus, ou amante. Drelliane pareceu surpresa quando Barenziah a perguntou sobre isso. Ela apenas disse que estava a serviço do general e que fazia o que quer que fosse pedido dela.
Com a assistência de Drelliane, vários vestidos e sapatos finos foram encomendados para ela, além de um traje e botas para andar a cavalo, assim como outras pequenas necessidades. Barenziah ganhou um quarto para si só.
Symmachus era um bom negócio. Ela o via na maioria das refeições, mas ele falava pouco sobre si ou sobre o que esteve fazendo. Ele era cordial e educado, bastante disposto a conversar sobre a maioria dos assuntos, e parecia interessado em qualquer coisa que ela dissesse. Drelliane era da mesma forma. Barenziah os achou bastante agradáveis, mas “difíceis de se conhecer”, como Katisha teria dito. Ela sentiu uma pontada de decepção. Esses eram os primeiros Elfos Negros com quem ela havia se associado de forma próxima. Ela esperava se sentir confortável com eles, sentir como se ela pertencesse a algum lugar, com alguém, como parte de alguma coisa. Mas pelo contrário, ela se encontrava sentindo falta de seus amigos Nórdicos, Katisha e Straw.
Quando Symmachus a comunicou que eles estariam de partida para a Cidade Imperial no dia seguinte, ela perguntou se poderia se despedir deles.
“Katisha?” ele perguntou. “Eh. Mas então ... Eu acho que eu a devo algo. Ela que me levou até você me contando sobre uma Elfa Negra solitária que precisava de outros amigos Elfos – e que às vezes se vestia como menino. Ela não possui nenhuma associação com a Guilda dos Ladrões, aparentemente. E ninguém associado com a Guilda dos Ladrões parece saber sobre sua verdadeira identidade, exceto Therris. Está bem. Eu prefiro que sua antiga parceria na Guilda não se tornasse coisa pública. Por favor não conte disso a ninguém, Vossa Alteza. Tal passado não ... se torna uma Rainha Imperial.”
“Mas ninguém sabe além de Straw e Therris. E eles não vão contar para ninguém.”
“Não.” Ele soltou um pequeno e curioso sorriso. “Não, eles não vão.”
Ele não sabia que Katisha sabia, então. Mas ainda assim, tinha alguma coisa por trás da forma com que ele falou ...
Straw veio até a casa na manhã de sua partida. Eles foram deixados sozinhos no salão, porém Barenziah sabia que outros Elfos estavam numa distância ainda audível. Ele parecia indeciso e pálido. Eles se abraçaram amigavelmente por alguns minutos. Os ombros de Straw estavam tremendo e lágrimas rolavam por seu queixo, mas ele não disse nada.
Barenziah tentou sorrir. “Então nós dois ganhamos o que queríamos, né? Eu vou ser Rainha de Forte da Lamentação e você será o senhor de sua própria fazenda.” Ela pegou a mão dele, sorriu calorosamente, genuinamente. “Eu vou lhe escrever, Straw. Eu prometo. Você deveria arruma rum escriba para me escrever também.”
Straw balançou a cabeça com tristeza. Quando Barenziah persistiu, ele abriu a boca e apontou, fazendo barulhos não articulados. Então ela notou o que estava ocorrendo. Sua língua havia sumido, havia sido cortada.
Barenziah caiu na cadeira e chorou escandalosamente.
“Mas por que?” ela demandou de Symmachus após Straw ir embora. “Por que?”
Symmachus deu de ombros. “Ele sabe demais. Ele poderia ser perigoso. Pelo menos ele está vivo, e ele não vai precisar da língua para ... criar porcos, ou, que seja.”
“Eu te odeio!” Barenziah gritou com ele, então abruptamente se curvou e vomitou no chão. Ela continuou a gritar com ele entre intervalos de náuseas. Ele ouviu parado por algum tempo até Drelliane realizar a limpeza. Finalmente, ele a disse para parar ou ele iria amordaça-la na viajem até o Imperador.
Eles pararam na casa de Katisha no caminho para fora da cidade. Symmachus e Drelliane não desmontaram. Tudo parecia normal, mas Barenziah tinha medo enquanto batia na porta. Katisha respondeu a batida. Barenziah agradeceu aos deuses que pelo menos ela estava bem. Mas ela claramente esteve chorando. De qualquer forma, as duas se abraçaram calorosamente.
“Por que você está chorando?” perguntou Barenziah.
“Por Therris, é claro. Você não soube? Ah, querida. Pobre Therris. Ele está morto.” Barenziah sentiu dedos de gelo espetarem seu coração. “Ele foi pego roubando da casa do Comandante. Pobre rapaz, mas foi tão tolo da parte dele. Oh, Berry, ele foi afogado e esquartejado essa manhã mesmo pelas ordens do Comandante!” Ela começou a soluçar. “Eu fui. Ele chamou por mim. Foi terrível. Ele sofreu tanto antes de morrer. Eu nunca vou esquecer. Eu procurei por você e Straw, mas ninguém sabia onde vocês haviam ido.” Ela olhou atrás de Barenziah. “Aquele é o Comandante, não é? Symmachus.” Então Katisha fez uma coisa estranha. Ela parou de chorar e sorriu. “Eu soube, no momento em que vi ele, eu pensei, esse é o certo para Barenziah!” Katisha pegou uma parte de sua roupa e secou os olhos. “Eu contei para ele sobre você, sabe.”
“Sim,” disse Barenziah, “Eu sei.” Ela pegou as mãos de Katisha com as suas e a olhou no fundo dos olhos. “Katisha, eu amo você. Vou sentir muita falta. Mas por favor nunca conte para ninguém nada sobre mim. Nunca. Prometa que não vai. Especialmente para Symmachus. E cuide de Straw para mim. Me prometa isso.”
Katisha prometeu, mesmo que estando em dúvida. “Berry, não foi de alguma forma por causa e mim que Therris foi pego, foi? Eu nunca disse nada sobre Therris para ... para ... ele.” Ela olhou para o general.
Barenziah a garantiu que não foi, que um informante havia contado à Guarda Imperial dos planos de Therris. O que era provavelmente uma mentira, mas ela podia ver que Katisha precisava bastante de alguma forma de conforto.
“Ah, fico aliviada com isso, se é que posso ficar aliviada de alguma coisa agora. Eu odeio pensar—Mas como eu poderia saber?” Ela se aproximou e cochichou na orelha de Barenziah, “Symmachus é bem bonitão, você não acha? E também charmoso.”
“Eu não saberia dizer,” Barenziah disse seca. “Eu realmente não pensei sobre isso. Houveram outras coisas para pensar sobre.” Ela explicou apressadamente sobre ser Rainha de Forte da Lamentação e morar na Cidade Imperial por um tempo. “Ele estava procurando por mim, é tudo. Em ordem do Imperador. Eu era o objeto de uma missão, nada mais que algum tipo de ... de um ... objetivo. Eu não acho que ele me vê como uma mulher, na verdade. Porém, ele disse que eu não pareço um garoto,” ela acrescentou quando viu a feição incrédula de Katisha. Katisha sabia que Barenziah avaliava homens que ela encontrava em termos de desejo sexual, e disponibilidade. “Eu acho que deve ser o choque de descobrir que eu sou realmente uma rainha,” ela acrescentou, e Katisha concordou que sim, era verdade, que deve ter algum choque, mas um que ela não poderia ter tido experiência na própria pele. Ela sorriu. Barenziah sorriu com ela. Então elas se abraçaram novamente, em lágrimas, pela última vez. Ela nunca viu Katisha outra vez. Ou Straw.
A caravana real partiu de Fendal pelo portão sul. Uma vez passado, Symmachus encostou no ombro dela e apontou de volta para o portão. “Eu pensei que você talvez quisesse se despedir de Therris também, Vossa Alteza.” Ele disse.
Barenziah encarou brevemente a cabeça empalada numa lança sobre o portão. Os pássaros haviam estado nela, mas o rosto ainda era reconhecível. “Eu não acho que ele irá me ouvir, porém tenho certeza que ele estará satisfeito em saber que estou bem,” ela disse, querendo soar calma. “Vamos tomar nosso rumo, General, não devemos?”
Symmachus estava claramente desapontado por sua falta de reação. “Eh. Você soube disso de sua amiga Katisha, eu acho?”
“Você achou certo. Ela compareceu à execução,” Barenziah disse casualmente. Se ele não sabia ainda, ele descobriria logo, ela tinha certeza.
“Ela sabia que Therris pertencia a Guilda?”
Ela balançou os ombros. “Todo mundo sabia disso. São apenas membros de nível baixo que devem se manter em segredo. Os mais altos são bem conhecidos.” Ela se virou e sorriu maliciosamente para ele. “Mas você deve saber disso tudo, não deve, General?” ela disse docilmente.
Ela parecia não ter sido afetado. “Então você contou para ela quem você era e de onde veio, mas não sobre a Guilda.”
“A associação com a Guilda não era segredo meu para contar. O outro era. Existe uma diferença. Além do mais, Katisha é uma mulher muito honesta. Se eu a contasse, ela gostaria bem menos de mim. Ela sempre estava na cola do Therris para convencê-lo de pegar um trabalho honesto. Eu valorizo a boa opinião dela.” Ela o deu um olhar glacial. “Não que seja da sua conta, mas você sabe o que mais ela achava? Ela achava que eu seria mais feliz se ficasse com um homem só. Um da minha própria raça. Um da minha própria raça com todas as qualidades certas. Um da minha própria raça com todas as qualidades certas, que sabe dizer todas as coisas certas. Você, de fato.” Ela assumiu as rédeas para assumir um passo mais vigoroso—mas não sem antes soltar uma última cartada irresistível. “Não é estranho como desejos se tornam verdade algumas vezes—mas não da forma com que você quer? Ou devo dizer, da maneira que você jamais iria querer?”
A resposta dele a pegou tão de surpresa que ela quase esqueceu de controlar o galope. “Sim. Muito estranho,” ele respondeu, e o tom dele se encaixou perfeitamente com as palavras. Então ele pediu licença e ficou mais atrás.
Ela manteve a cabeça erguida e mandou sua montaria adiante, tentando parecer nenhum pouco surpresa. Mas o que a incomodava na resposta dele? Não o que ele disse. Não, não era. Mas alguma coisa na forma com que ele falou. Algo fez ela pensar que ela, Barenziah, era um dos desejos que havia se tornado verdade. Inesperado como parecia, ela deu a deliberação adequada. Ela havia a encontrado finalmente, depois de meses de procura, ao que parecia, sob pressão do Imperador, sem dúvida. Então o desejo dele havia se tornado verdade. Sim, deve que era isso.
Mas de algum modo, aparentemente, não totalmente a gosto dele.
Parte 3
Por vários dias, Barenziah sentiu um peso de arrependimento de sua separação de seus amigos. Mas pela segunda semana fora, seu ânimo começou a aumentar um pouco. Ela descobriu que gostava de estar na estrada novamente, mas ela sentia falta da companhia de Straw mais do que ela pensou que sentiria. Eles eram escoltados por uma tropa de cavaleiros Rubraguarda com os quais ela se sentia confortável, apesar que esses eram muito mais disciplinados, e decentes, que os guardas das caravanas mercantes com que ela passou o tempo. Eles eram geniais e respeitosos com ela apesar de suas tentativas de flertar.
Symmachus a repreendia pessoalmente, dizendo que uma rainha deveria se manter realmente digna a todo tempo.
“Você quer dizer que eu nunca vou me divertir?” ela disse petulante.
“Eh. Não desse jeito. Eles estão abaixo de você. Graciosidade é desejada daqueles em autoridade, Mileide. Familiaridade não. Você irá permanecer casta e modesta enquanto estiver na Cidade Imperial."
Barenziah enfrentou. “Eu posso da mesma forma estar de volta na Fortaleza Charconegro. Elfos são promíscuos por natureza, você sabe. Todo mundo diz isso.”
“Todo mundo está errado, então. Alguns são, outros não. O Imperador – e eu – esperamos que você demonstre tanto discriminação quanto bom gosto. Deixe-me lembra-la, Vossa Alteza, que você segura o trono de Forte da Lamentação não por direito de sangue, mas pelo solene prazer de Tiber Septim. Se ele te julgar indigna, seu reinado irá acabar antes mesmo de começar. Ele requer inteligência, obediência, discrição, e total lealdade a todo, e ele favorece castidade e modéstia em mulheres. Eu sugiro fortemente que você modele seu procedimento de acordo com nossa boa Drelliane. Mileide.”
“Eu ficaria de bom grado de volta em Charconegro!” Barenziah estalou ressentida, ofendida com o pensamento de emular a frígida, pudica Drelliane em qualquer forma.
“Essa não é sua opinião. Vossa Alteza. Se você não possui utilidade para Tiber Septim, ele fará questão de que você também não tenha uso para os inimigos dele,” o general disse pressagioso. “Se você conseguir manter sua cabeça sobre os ombros, tome as rédeas. Deixe-me adicionar que poder oferece prazeres diferentes da carnalidade e brincadeiras com companhias básicas.”
Ele começou a falar de arte, literatura, teatro, música, e os grandes bailes da Corte Imperial. Barenziah ouviu com o interesse crescente, não totalmente interessada em suas ameaças. Mas depois ela perguntou timidamente se ela poderia continuar seu estudo de magia na Cidade Imperial. Symmachus pareceu agradado com isso e prometeu providenciar. Encorajada, ela então disse que havia notado que três dos cavaleiros os escoltando eram mulheres, e perguntou se ela poderia treinar com elas, apenas para exercitar. O general pareceu menos agradado com isso, mas deu seu consentimento, apesar de se perguntar se seria apenas com as mulheres.
O clima do final do inverno permaneceu suave, apesar de pouco nevado, pelo restante da viajem e eles viajaram rapidamente pelas estradas firmes. No último dia de sua viajem, a primavera parecia finalmente ter chegado, pois havia sinais de gelo derretendo. A estrada ficou enlameada sob seus pés, e em todo lugar podia-se ouvir água pingando e correndo. Era um som agradável.
Eles chegaram na grande ponte que atravessava para a Cidade Imperial no pôr do sol. O brilho rosado deixou os rígidos edifícios de mármore branco da metrópole com um rosa delicado. Tudo parecia novo e grande e imaculado. Uma larga avenida levava ao norte até o Palácio. Uma plateia de pessoas de todas as raças preenchia o percurso. Luzes piscavam nas lojas e estalagens enquanto a noite caia e as estrelas começam a aparecer pelas duplas e trios. Até mesmo as ruas secundárias eram largas e bem iluminadas. Próximo do Palácio as torres de um imenso salão da Guilda dos Magos apareciam no Leste, enquanto no Oeste as janelas de vidro de um grande tabernáculo brilhavam na luz decadente.
Symmachus possuía apartamentos numa magnífica casa dois quarteirões do palácio, depois do templo. ("O Templo do Um," ele identificou enquanto passavam, um antigo culto Nórdico que Tiber Septim reviveu. Ele disse que Barenziah se tornaria membra caso fosse provada aceitável para o Imperador.) O local era esplêndido—apesar de não ser muito do gosto de Barenziah. As paredes e mobília eram feitos de totalmente de branco intocado, apenas com leves toque dourados, e o chão de mármore negro devidamente brilhante. Os olhos de Barenziah doeram pela cor e contraste repentino de matizes.
Na manhã Symmachus e Drelliane a escoltaram até o Palácio Imperial. Barenziah notou que todos que eles encontravam cumprimentavam Symmachus com um respeito atencioso, em alguns casos esbarravam na obsequiosidade. O general parecia tomar como dado.
Eles foram levados direto para a presença imperial. O sol da manhã alagava a pequena sala por uma grande janela com panos finos, banhando uma grande mesa de café da manhã e o único homem que sentava lá, escuro contra a luz. Ele saltou de pé quando eles entraram e se apressou na direção deles. “Ah, Symmachus, nosso amigo mais leal, nós o recebemos de volta com alegria.” As mãos deles seguraram os ombros de Symmachus brevemente, com carinho, travando o profundo ajoelhar do Elfo Negro no cumprimento.
Barenziah fez uma reverência enquanto Tiber Septim se virava para ela.
“Barenziah, nossa pequena fugitiva desobediente. Como você está, jovem? Aqui, vamos dar uma olhada em você. Porque, Symmachus, ela é charmosa, absolutamente charmosa. Por que você a escondeu de nós por todos esses anos? A claridade está muita, minha jovem? Devemos fechar as cortinas? Sim, é claro.” Ele ignorou os protestos de Symmachus e fechou a cortina por si próprio, sem se incomodar em chamar um criado. “Peço que nos perdoe pela falta de cortesia com vocês, nossos queridos convidados. Nós temos muito a pensar, apesar de que isso é uma desculpa ruim para falta de hospitalidade. Mas ah! Juntem-se a nós. Tem umas nectarinas excelentes do Pântano Negro."
Eles se sentaram na mesa. Barenziah estava estabanada. Tiber Septim não era nada como o grande, grisalho e rústico guerreiro que ela havia imaginado. Ele era de tamanho normal, mais baixo que Symmachus por apenas uma cabeça, mas era bem vestido e de movimentos flexíveis. Ele tinha um sorriso vencedor, brilhantes –até penetrantes- olhos azuis, e a cabeça cheia de cabelos brancos fortes acima de um rosto alinhado e resistido. Ele poderia ser de qualquer idade desde quarenta até sessenta. Ele pressionou comida e bebida para eles, e então repetiu a pergunta que o general fez dias atrás: Porque ela havia saído de casa? Teriam seus guardiões sido maus com ela?
“Não, Excelência,” respondeu Barenziah, “na verdade, não – mesmo que eu pensasse que sim ás vezes.” Symmachus havia fabricado uma história para ela, e Barenziah a contou agora, apesar de com um certo receio. O garoto dos estábulos, Straw, a havia convencido que seus guardiões, incapazes de arrumar um bom marido para ela, planejavam vende-la como concubina em Rihad; e quando um Rubraguarda realmente veio, ela entrou em pânico e fugiu com Straw.
Tiber Septim parecia fascinado e ouvia com êxtase enquanto ela dava detalhes de sua vida como escolta de uma caravana mercante. “Nossa, isso é como uma balada!” ele disse. "Pelo Um, nós vamos ter que mandar o Bardo da Corte transformar isso em música. Que garoto charmoso você não deve ter feito.”
“General Symmachus disse--” Barenziah parou confusa, então procedeu. “Ele disse – bem, que eu não pareço mais muito com um garoto. Eu... cresci nos últimos meses.” Ela abaixou os olhos no que esperava que se aproximasse de modéstia recatada.
“Ele é bem sagaz, esse nosso leal amigo Symmachus.”
“Eu sei que eu fui uma garota bem estúpida, Excelência. Deve pedir seu perdão, e o de meus bondosos guardiões. Eu... eu percebi isso a algum tempo, mas eu estava muito envergonhada para voltar para casa. Mas eu não quero voltar para Charconegro agora. Excelência, eu clamo pelo Forte da Lamentação. Minha alma suplica pela minha terra.”
“Nossa querida jovem. Você irá para casa, nós te prometemos. Mas queremos que fique conosco mais um tempo, para que possa se preparar para a árdua e solene tarefa que será empregada a você.”
Barenziah o encarou seriamente, o coração acelerado. Estava tudo andando assim como Symmachus disse que iria. Ela sentiu uma quente onda de gratidão por ele, mas estava cuidadosa em manter sua atenção no Imperador. “Eu estou honrada, Excelência, e desejo mias sinceramente servir a você e esse grande Império que você construiu de qualquer forma que eu puder.” Era a coisa política a se dizer, com certeza – mas Barenziah realmente sentia isso. Ela estava maravilhada com a magnificência da cidade e a disciplina e ordem evidentes em todo lugar, e além de tudo, estava animada em ser parte disso tudo. E ela se sentiu um tanto atraída pelo gentil Tiber Septim.
Depois de alguns dias Symmachus partiu para Forte da Lamentação para tomar suas responsabilidades como um governador até que Barenziah estivesse pronta para assumir o trono, depois disso ele se tornaria seu Primeiro Ministro. Barenziah, com Drelliane como acompanhante, tomou estadia em uma suíte no Palácio Imperial. Vários tutores forma providenciados para ela, em todos os campos necessários a educação de uma rainha. Durante esse tempo ela se tornou profundamente interessada nas artes mágicas, mas ela achou os estudos de história e política não muito de sua preferência.
Em ocasiões ela se encontrava com Tiber Septim nos jardins do Palácio e ele iria sem falta e educadamente perguntar sobre seu progresso – e a repreender, porém com um sorriso, por seu desinteresse em matérias de estado. Contudo, ele estava sempre contente em instrui-la nos pontos mais finos de magia, e ele faria até mesmo história e política parecerem interessantes. “Eles são pessoas, criança, não fatos secos em um livro empoeirado,” ele dizia.
Conforme seus conhecimentos aumentavam, suas conversas ficavam mais longas, profundas, mais frequentes. Ele falava para ela sobre suas visões de uma Tamriel unida, cada raça separada e distinta, mas com ideais e objetivos compartilhados, todos contribuindo para o bem comum. “Algumas coisas são universais, compartilhadas por todos os povos conscientes e de boa intenção,” ele disse. “É o que o Um nos ensina. Nós devemos nos unir contra os maliciosos e os brutos, os monstruosos-- os Orcs, trolls, goblins, e outras criaturas piores – e não lutar uns contra os outros.” Seus olhos azuis brilhavam conforme ele encarava esse sonho, e Barenziah estava maravilhada apenas de sentar e ouvi-lo. Se ele se aproximasse dela, o lado do seu corpo próximo do dele brilhava como se ele fosse uma chama latente. Se suas mãos se encontravam ela se arrepiava como se seu corpo fosse carregado por um feitiço elétrico.
Um dia, quase inesperadamente, ele pegou seu rosto em suas mãos e a beijou gentilmente na boca. Ela se afastou após alguns instantes, espantada pela violência de seus sentimentos, e ele se desculpou instantaneamente. “Eu... nós... nós não pretendíamos fazer isso. É só que – você é tão linda, querida. Muito linda.” Ele estava olhando para ela com uma ânsia sem esperança em seus olhos generosos.
Ela virou de costas, lágrimas correndo por seu rosto.
Barenziah balançou a cabeça. “Eu nunca poderia ter raiva de você, Excelência. Eu... eu te amo. Eu sei que está errado, mas não consigo evitar.”
“Nós temos uma cônjuge,” ele disse. “Ela é uma mulher boa e virtuosa, a mãe de nossos filhos e futuros herdeiros. Nós nunca poderíamos coloca-la de lado – mas não há nada entre nós e ela, nenhum compartilhamento de espírito. Ela quer que nós sejamos algo que não somos. Nós somos a pessoa mais poderosa em toda Tamriel, e... Barenziah, nós... eu... eu acho que também sou a mais solitária.” Ele se ergueu subitamente. “Poder!” ele disse com desprezo sublime. “Eu trocaria uma boa parcela dele por juventude e amos se os deuses apenas permitissem.”
“Mas você é forte e vigoroso e vívido, mais do que qualquer homem que eu tenha conhecido.”
Ele balançou a cabeça veemente. “Hoje, talvez. Mas ainda sou menos do que eu era ontem, ano passado, dez anos atrás. Eu sinto o ficar de minha mortalidade, e é doloroso.”
“Se eu puder amenizar sua dor, me permita.” Barenziah se moveu na direção dele, mãos estendidas.
“Não. Não devo tomar sua inocência de você.”
“Não sou tão inocente.”
“Quão tanto?” A voz do Imperador de repente saiu severa, suas sobrancelhas erguidas.
A boca de Barenziah ficou seca. O que ela havia acabado de dizer? Mas ela não podia voltar atrás agora. Ele saberia. “Teve Straw,” ela falhou. “Eu... eu também era solitária. Sou solitária. E não tão forte quanto você.” Ela abaixou seus olhos com vergonha. “Eu... eu acho que não sou digna, Excelência--”
“Não, não. Não. Barenziah. Minha Barenziah. Não pode durar muito. Você tem uma tarefa em Forte da Lamentação, e uma tarefa com o Império. Eu devo cuidar das minhas também. Mas enquanto podemos – devemos compartilhar o que temos, o que podemos, e orar para que o Um nos perdoe por nossa fragilidade?”
Tiber Septim abriu seus braços – e sem palavras, de boa vontade, Barenziah entrou em seu abraço.
“Você dá cambalhotas na beira de um vulcão, filha,” Drelliane advertia enquanto Barenziah admirava o esplêndido anel de safira em estrela que seu amante imperial a havia dado para celebrar seu aniversário de um mês.
“Como? Nós fazemos um ao outro feliz. Não ferimos ninguém. Symmachus me disse para ser discriminada e discreta. Quem melhor eu poderia escolher? E nós estamos sendo bem discretos. Ele me trata como uma filha em público.” As visitas noturnas de Tiber Septim eram feitas por uma passagem secreta que apenas poucos no Palácio sabiam – ele próprio e um corpo de guarda-costas confiáveis.
“Ele olha para você como um cachorro para sua comida. Você não notou a frieza da Imperatriz e seu filho com você?”
Barenziah deu de ombros. Mesmo antes dela e Septim se tornarem amantes, ela não recebia nada da família dele além pura civilidade. Civilidade de má vontade. “De que importa? É Tiber que segura o poder.”
“Mas é o filho dele que segura o futuro. Não coloque a mão dele em humilhação pública, eu te suplico.”
“O que posso fazer nada se aquele graveto seco de mulher não consegue segurar o interesse do marido nem em uma conversa no jantar?”
“Tenha menos para dizer em público. É tudo que peço. Ela importa pouco, é verdade – mas seu filho a ama, e você não os quer como inimigos. Tiber Septim não vai viver ainda muito. Eu quero dizer,” Barenziah amenizou rapidamente diante do olhar de Barenziah, “todos os humanos têm a vida curta. Efêmeros, como nós das Raças Ancestrais dizemos. Ele vem e vão como as estações – mas as famílias dos poderosos vivem por tempos. Você deve ser uma amiga dessa família se quiser lucro de sua relação. Há, mas como posso te fazer ver a verdade, você que é tão jovem e ainda criada por humanos! Se prestar atenção, e sabiamente, você e Forte da Lamentação devem viver para ver a queda da dinastia dos Septim, isso se ele tiver fundado uma, assim como você presencia ela se erguer. É o curso da história humana. Eles decaem e escoam como as marés inconstantes. Suas cidades e domínios florescem como flores na primavera, apenas para murchar e morrer no sol do verão. Mas os Elfos suportam. Nós somos como uma no para a o hora deles, uma década para um dia deles.”
Barenziah apenas riu. Ela sabia que rumores circulavam sobre ela e Tiber Septim. Ela gostava da atenção, e salvo tudo a Imperatriz e seu filho pareciam cativados por ela. Menestréis cantavam de sua beleza negra e seu jeito charmoso. Ela estava na moda e amando – se fosse temporário, bem, o que não é? Ela estava feliz pela primeira vez desde que recordava, cada um de seus dias preenchidos de alegria e prazer. E as noites eram ainda melhores.
“O que há de errado comigo?” Barenziah lamentava. “Olha, nenhuma das minhas saias servem. O que aconteceu com minha cintura? Eu estou ficando gorda?” Barenziah considerava seus braços e pernas finas e sua cintura inquestionavelmente crescida no espelho com desprazer.
Drelliane deu de ombros. “Você parece estar com uma criança, jovem como você é. Ficar constantemente com humanos trouxe você mais cedo a fertilidade. Não vejo escolha para você além de falar com o Imperador sobre isso. Você está no poder dele. Seria melhor, eu acho, se você fosse direto para Forte da Lamentação se ele concordar, e parir a criança lá.”
“Sozinha?” Barenziah colocou suas mãos em sua barriga inchada, lágrimas se formando em seus olhos. Tudo nela ansiava em compartilhar o fruto de seu amor com ela. “Ele nunca irá concordar. Ele não vai se separar de mim agora. Você vai ver.”
Drelliane balançou a cabeça. Apesar de não dizer mais nada, um olhar de simpatia e tristeza havia substituído sua feição fria comum.
Naquela noite Barenziah contou a Tiber Septim quando ele veio para atribuição usual.
“Com uma criança?” Ele parecia espantado. Não, atordoado. “Você tem certeza disso? Me disseram que Elfos não engravidam em uma idade tão jovem...”
Barenziah forçou um sorriso. “Como posso ter certeza? Eu nunca--”
“Vou mandar chamar meu curandeiro.”
O curandeiro, um Alto Elfo de meia idade, confirmou que Barenziah estava realmente grávida, e algo assim nunca havia sido visto acontecer antes. Era um testemunho da potência de Vossa Excelência, o curandeiro disse em tom bajulador. Tiber Septim rugiu com ele.
“Isso não pode ser!” ele disse. “Desfaça isso. Nós comandamos.”
“Senhor,” o curandeiro ficou boquiaberto. “Eu não posso... eu não devo--”
“É claro que você pode, seu cretino incompetente,” o Imperador estalou. “É nosso expresso desejo que você faça isso.”
Barenziah, até então em silêncio e com os olhos arregalados de terror, subitamente se sentou na cama. “Não!” ela gritou. “Não! O que você está dizendo?”
“Minha jovem,” Tiber Septim se sentou do lado dela, seu rosto trajando um de seus sorrisos triunfantes. “Eu sinto muito. De verdade. Mas não pode ser. Seu erro seria uma ameaça para meu filho e seus filhos. Não consigo colocar mais simples que isso.”
“A criança que carrego é sua!” ela gemeu.
“Não. Agora é apenas uma possibilidade, um talvez, não ainda presenteada com uma alma ou acelerada para a vida. Eu não irei permitir. Eu proíbo.” Ele deu ao curandeiro outro olhar áspero e o Elfo começou a tremer.
“Senhor. É a criança dela. Crianças são poucas entre os elfos. Nenhuma elfa concebe mais do que quatro vezes, e isso é muito raro. Dois é o número normal. Algumas não concebem nenhum, até, e algumas apenas um. Se eu tirar esse dela, Senhor, ela pode não conceber novamente.”
“Você nos prometeu que ela não conceberia de nós. Nós temos pouca fé em seus prognósticos.”
Barenziah de mexeu nua na cama e correu para a porta, sem saber onde estava indo, apenas que ele não podia ficar. Ela nunca a alcançou. A escuridão a tomou.
Ela acordou para a dor, e um sentimento de vazio. Um vazio onde algo costumava ficar, algo que costumava estar vivo, mas agora estava morto e partiu para sempre. Drelliane estava lá para amenizar a dor e limpar o sangue que ainda pingava as vezes do meio de suas pernas. Mas não havia nada para preencher o vazio. Não havia nada para tomar o espaço do vazio.
O Imperador enviou presentes magníficos e vastos arranjos de flores, e vinha em visitas curtas, sempre bem participativo. Barenziah recebeu essas visitas com prazer no início. Mas Tiber Septim não veio mais as noites – e depois de um tempo, nem ela o queria mais.
Algumas semanas se passaram, e quando ela estava completamente recuperada fisicamente, Drelliane a informou que Symmachus havia escrito requisitando que ela fosse para Forte da Lamentação mais cedo do que o planejado. Foi anunciado que ela partiria imediatamente.
Foi dada a ela uma grande comitiva, um extenso enxoval digno de uma rainha, e uma elaborada e impressionante cerimônia de despedida dos portões da Cidade Imperial. Algumas pessoas estavam tristes em vê-la partir, e expressavam sua tristeza em lágrimas e queixas. Mas alguns não estavam, e não o fizeram.
Parte 4
"Tudo que eu sempre amei, eu perdi,” Barenziah pensou abatida, olhando para os cavaleiro montados atrás e afrente, sua camareira ao lado dela na carruagem. “Mesmo que tenha ganho uma quantia de fortuna e poder, e as promessas de mais por vir. Comprei por um alto preço. Agora entendo melhor o amor de Tiber Septim por isso, se ele tiver pago frequentemente tais preços. Com certeza é medido pelo preço que pagamos.” Por desejo dela, ela era levada por uma brilhante égua ruana, revestida como um guerreiro em uma resplendente cota de malha de criação Élfica Negra.
Conforme os dias passavam vagarosamente e sua escolta caminhava a estrada sinuosa em direção leste no sol poente, entorno dela gradualmente iam crescendo as montanhas de Morrowind. O ar era escasso, e uma brisa morna de fim de outono soprava constantemente. Mas também era rica com o cheiro doce e picante das rosas negras florescendo, que eram nativas de Morrowind e cresciam em cada fenda nos locais mais altos, encontrando fertilidade até mesmo nos locais mais pedregosos e íngremes. Em pequenos vilarejos e cidades, Elfos Negros em roupas simples se agrupavam na beira da estrada para gritar seu nome ou simplesmente observar. A maioria de seus cavaleiros de escolta eram Rubraguardas, com alguns poucos Altos Elfos, Nords, e Bretões. Conforme traçavam seu caminho ao coração de Morrowind, eles ficavam cada vez mais desconfortáveis e se aproximavam uns dos outros de forma protetora. Até mesmo os cavaleiros Elfos pareciam cuidadosos.
Mas Barenziah se sentiu em casa, finalmente. Ela sentiu as boas-vindas estendidas a ela por terra. Sua terra.
Symmachus a encontrou na fronteira de Forte da Lamentação com uma escolta de cavaleiros, dos quais metade eram Elfos Negros. Em vestimentas Imperiais de batalha, ela notou.
Havia uma grande passeata na entrada da cidade e discursos de boas-vindas de imponentes dignitários.
“Eu mandei reformar a suíte da rainha para você,” o general a contou mais tarde quando eles chegaram no palácio, “mas você pode alterar qualquer coisa de acordo com seu gosto, é claro.” Ele prosseguiu com detalhes da coroação, que aconteceria em uma semana. Ele era o mesmo comandante – mas ela sentiu algo além. Ele estava ansioso pela aprovação dela quanto aos preparativos, estava de fato pedindo por isso. Isso era novo. Ele nunca havia requisitado seu elogio antes.
Ele não perguntou nada sobre sua estadia na Cidade Imperial, ou sobre seu caso com Tiber Septim – apesar de Barenziah ter certeza que Drelliane havia contado para ele, ou escrito mais antes, tudo em detalhes.
A cerimônia em si, como muitas coisas, era uma mistura do antigo e do novo – partes dela da antiga tradição dos Elfos Negros de Forte da Lamentação, as outras obrigadas por ordem Imperial. Ela prometia serviço ao Império e Tiber Septim assim como a terra de Forte da Lamentação e seu povo. Ela aceitou juramentos de fidelidade e aliança do povo, da nobreza, e do conselho. Esse último era composto por uma mistura de emissários Imperiais (“conselheiros”, eles eram chamados) e representantes nativos do povo de Forte da Lamentação, que eram a maioria idosos de acordo com o costume Élfico.
Barenziah descobriu mais tarde que grande parte de seu tempo era ocupado por tentar reconciliar essas duas facções e seus parceiros. Dos mais velhos era esperado a maioria da conciliação, em luz de reformas introduzidas pelo Império perante posses de terras e plantios na superfície. Mas a maioria desses iam contra as observações dos Elfos Negros. Tiber Septim, “no nome do Um," havia ordenado uma nova tradição – e aparentemente até mesmo os deuses e deusas em si eram esperados obedecer.
A nova Rainha se jogava em seu trabalho e estudos. Ela estava terminada com amor e homens a muito, muito tempo – se não para sempre. Haviam outros prazeres, ela descobriu, como Symmachus havia prometido a muito tempo: aqueles da mente, e aqueles do poder. Ela desenvolveu (surpreendentemente, pois ela havia sempre se rebelado contra seus tutores na Cidade Imperial) um profundo amor pela história e mitologia dos Elfos Negros, uma fome de saber mais completamente sobre o povo de quem ela floresceu. Ela era gratificada em saber que eles haviam sido guerreiros orgulhosos e criadores habilidosos e magos astutos desde os tempos imemoráveis.
Tiber Septim viveu por mais meio século, durante o qual ela o viu em várias ocasiões já eu ela deveria ir até a Cidade Imperial por uma razão ou outra de estado. Ela a recebeu calorosamente durante as visitas, e eles até tiveram longas conversas juntos sobre os eventos no Império quando a oportunidade permitia. Ela parecia até ter esquecido que já houve qualquer coisa entre eles além de simples amizade e uma profunda aliança política. Ele mudou pouco com o passar dos anos. Haviam rumores de que magos haviam desenvolvido feitiços para estender sua vitalidade, e que até mesmo o Um havia concedido a ele imortalidade. Então um dia um mensageiro chegou com notícias que Tiber Septim estava morto, e que seu neto Pelagius era agora Imperador em seu lugar.
Eles ouviram a notícia privadamente, ela e Symmachus. O antes General Imperial e agora confiado Primeiro Ministro tomou isso estoicamente, como ele tomava qualquer coisa.
“De alguma forma não parece possível,” Barenziah disse.
“Eu te disse. Sim. É o modo dos humanos. Eles são um povo de vida curta. Mas não importa realmente. O poder dele vive, e seu filho agora o empunha.”
“Você uma vez o chamou de amigo. Você não sente nada? Nenhuma dor?”
Ele deu de ombros. “Houve um tempo em que você o chamou de algo mais. O que você sente, Barenziah?” Eles haviam a muito tempo parado de se referir um ao outro privadamente com seus títulos formais.
“Vazio. Solidão,” ela disse, e então ela também deu de ombros. “Mas isso não é novo.”
“Sim. Eu sei,” ele disse suave, segurando sua mão. “Barenziah...” Ele levantou o rosto dela e a beijou.
O ato a encheu de surpresa. Ela não conseguia lembrar dele a tocar alguma vez. Ela nunca pensou dele dessa forma – e ainda, inegavelmente, um antigo calor familiar se espalhou por ela. Ela havia esquecido o quão bom era, aquele calor. Não a calor ardente que ela sentia com Tiber Septim, mas o confortante, robusto ardor que ela de alguma forma associou com... com Straw! Straw. Pobre Straw. Ela não pensou nele desde então. Ele estaria de meia idade se ainda estivesse vivo. Provavelmente com uma dúzia de filhos, ela pensou carinhosamente... e uma amorosa esposa que esperançosamente pudesse falar por dois.
“Casa comigo, Barenziah,” Symmachus estava dizendo, ela parecia ter pego seus pensamentos sobre casamento, filhos... esposas. “Eu estive trabalhando e esperado por isso o bastante, não tive?”
Casamento. Camponês com sonhos camponeses. O pensamento pareceu em sua mente, claro e espontâneo. Ela não havia usado essas mesmas palavras para descrever Straw, há muito tempo? E ainda, porque não? Se não Symmachus, quem mais?
Muitas das famílias nobres de Morrowind haviam sido limpas pela grande guerra de unificação de Tiber Septim, antes do tratado. O governo dos Elfos Negros havia sido restaurado, era verdade – mas não o antigo, não a verdadeira nobreza. A maioria deles eram novatos como Symmachus, e nem metade bons e merecedores quanto ele era. Ele lutou para manter Forte da Lamentação inteira enquanto seus chamados conselheiros recolhiam seus ossos, chupado eles até ficarem secos como Coração-Ébano havia ficado. Ele lutou por Forte da Lamentação, lutado por ela, enquanto ela e o reino cresciam e venciam. Ela sentiu uma súbita onda de gratidão – e, inegavelmente, afeição. Ele era firme e confiável. E ele a serviu bem. E a amava.
“Porque não?” ela disse sorrindo. E pegou a mão dele. E o beijou.
A união foi uma das boas, tanto nos aspectos políticos quanto nos pessoais. Enquanto o neto de Tiber Septim, o Imperador Pelagius I, olhava para ela com olhar de ciúmes, a confiança dele no velho amigo de seu pai era absoluta.
Symmachus, contudo, ainda era visto com suspeitas pelos cabeças-duras de Morrowind, cuidadoso com seu passado camponês e seus laços próximos com o Império. Mas a Rainha era inabalavelmente popular. “A Dama Barenziah é uma de nós,” era sussurrado, “Mantida em cativeiro como nós.”
Barenziah se sentia contente. Havia trabalho e havia prazer – e o que mais pode-se querer da vida?
Os anos passaram rápido, com crises para serem lidadas, e tempestades e famintos e falhas para serem amenizadas, e planos para serem estragados, e conspiradores para serem executados. Forte da Lamentação prosperou de forma constante. Seu povo estava seguro e alimentado, suas minas e fazendas produtivas. Tudo estava bem – exceto que o casamento real não produziu crianças. Nenhum herdeiro.
Crianças élficas eram lentas para se fazer, e demandavam mais de sua chegada – e crianças nobres mais que as outras. Então muitas décadas se passaram antes de eles se preocuparem.
“A culpa é minha, Symmachus. EU sou um bem defeituoso,” Barenziah disse amarga. “Se quiser escolher outra...”
“Eu não quero nenhuma outra,” Symmachus disse gentilmente, “assim como não sei com certeza se a culpa é sua. Talvez seja minha. Ah. Que seja. Nós vamos procurar uma cura. Se há dano, tenho certeza de que pode ser reparado.”
“Mas como? Quando ousamos não confiar nossa história a ninguém? Juramentos de curandeiros nem sempre se mantém.”
“Não vai importar se mudarmos o tempo e circunstâncias um pouco. O que quer que digamos ou falhemos em dizer Jephre o Contador de Histórias nuca descansa. A mente criativa dos deuses e língua ágil são muito ocupadas em espalhar rumores e fofocas.”
Sacerdotes e curandeiros e magos vinham e iam, mas todas suas orações, poções, e filtros não produziram nem uma promessa de florescer, nem um único fruto. Eventualmente eles tiraram isso de suas mentes e deixaram nas mãos dos deuses. Eles ainda eram jovens, como os Elfos iam, com séculos na frente deles. Havia tempo. Com Elfos sempre havia tempo.
Barenziah se sentou para jantar no Grande Salão, mexendo na comido no prato, se sentindo entediada e inquieta. Symmachus estava fora, havia sido chamado até a Cidade Imperial pelo tatara-tataraneto de Tiber Septim, Uriel Septim. Ou era seu tatara-tatara-tatara-tataraneto? Ela havia perdido a conta, percebeu. Seus rostos pareciam imergir no do seguinte. Talvez ela devesse ter ido com ele, mas houve uma delegação de Fissura em um assunto tedioso que requisitava um cuidado delicado.
Um bardo estava cantando em um canto do salão, mas Barenziah não estava escutando. Ultimamente todas músicas pareciam as mesmas para ela, fossem novas ou velhas. Então uma mudança de frase chamou a atenção dela. Ele estava cantando sobre liberdade, de aventura, de livrar Morrowind de suas correntes. Como ousava! Barenziah se levantou imediatamente para encara-lo. Pior, ela notou que ele estava cantando de alguma antiga, e agora imaterial, guerra com os Nórdicos de Skyrim, louvando o heroísmo do Rei Edward e Moraelyn e seus bravos Companheiros. A fábula era velha o bastante, com certeza, ainda a canção era nova ... e seu significado ... Barenziah não podia ter certeza.
Um sujeito obscuro, esse bardo, mas com uma forte e apaixonada voz e bom ouvido para música. Um tanto bonito também, de um jeito libertino. Ele não parecia velho, mas também não era tão jovem. Com certeza ele não estaria com menos de um século de idade. Porque ela não o havia ouvido antes, ou pelo menos ouvi falar dele?
“Quem é ele?” ela perguntou a uma servente em espera.
A mulher deu de ombros e disse, “Se chama o Rouxinol, Milady. Ninguém parece saber nada sobre ele.
“Mande ele falar comigo quando tiver acabado.”
O homem chamado Rouxinol veio até ela, a agradeceu pela honra da audiência com a Rainha e a gorda bolsa que ela o havia dado. Suas maneiras não eram de tudo obscuras, ela decidiu, um tanto quieto e modesto. Ele era rápido o bastante com fofocas sobre outros, mas ela não descobriu nada sobre ele – ele retrucava todas as perguntas com piadas ou uma história obscena. Ainda essas eram retrucadas tão charmosamente que era impossível tomar como ofensa.
“Meu verdadeiro nome? Minha Dama, eu sou ninguém. Não, não, meus pais me batizaram de Pálido – ou Sem Amigos? De que importa? Importa de nada. Como podem os pais dar nome aquilo que eles não conhecem? Ah! Acredito que esse era o nome, Não Conhece. Eu tenho sido o Rouxinol por tanto tempo que não me lembro, desde, oh, mês passado no mínimo – ou foi semana passada? Todas as minhas lembranças vão em canções e fábulas, você vê, Milady. Não tenho nenhuma sobrando para mim. Eu sou mesmo um tanto estúpido. Onde eu nasci? Porque, Luganenheyr. Eu pretendo me instalar em Dunroamin quando eu chegar lá ... mas não tenho pressa.”
“Percebo. E então você vai se casar com Atallshur?”
“Muito perceptivo de você, Milady. Talvez, talvez. Apesar de que acho Innhayst um tanto charmosa também, as vezes.”
“Ah. Você é inconstante então?”
“Como o vento, Milady. Eu sopro aqui e ali, quente e frio, conforme a situação. A situação é minha vestimenta. Nada mais fica bem em mim.”
Barenziah sorriu. “Fique conosco um pouco, então ... se puder, Milorde Erhatick.”
“Como desejar, Milady Bryte.”
Após uma breve troca, Barenziah encontrou seu interesse na vida de alguma forma reacendido. Tudo que parecia estável se tornou fresco e novo novamente. Ela cumprimentava cada dia com entusiasmo, esperando uma conversa como Rouxinol e os presentes de sua canção. Diferente de outros bardos, ele nunca cantava louvores a ela, nem outras mulheres, mas apenas de altas aventuras e grandes feitos.
Quando ela o perguntou sobre isso, ele disse, “Que maior louvor de sua beleza você poderia pedir, Milady, do que aquele que seu próprio espelho lhe dá? E se palavras você teria, você tem aquelas do maior, daqueles maiores que eu. Como deveria eu competir com eles, eu que nasci a uma semana atrás?”
Por uma vez eles estavam conversando em particular. A Rainha, incapaz de dormir, o havia chamado a seus aposentos para que sua música a acalmasse. “Você é preguiçoso e um covarde, senhor, ou não possuo charme sobre você.”
“Milady, para louvar-te preciso conhece-te. Eu nunca poderei conhecer-te. Você é envolta em enigma, em nuvens de encanto.”
“Não, não assim. Suas palavras são o que dissipam o encantamento. Suas palavras... e seus olhos. E seu corpo. Conheça-me se quiser. Conheça-me se ousar.”
Ele então foi a ela. Eles ficaram perto, eles beijaram, eles abraçaram. “Nem Barenziah conhece Barenziah de verdade,” ele suspirou suavemente, “então como posso eu? Milady, você não procura e não sabe, nem ainda o que. O que você teria, que não tem?”
“Paixão,” ela respondeu. “Paixão. E crianças nascidas dela.”
“E para suas crianças o que? Que direito seria deles de nascença?”
“Liberdade,” ela disse, “a liberdade de serem o que quiserem ser. Me diga, você que parece ser mais sábio desses olhos e ouvidos, e a alma que os une. Onde posso encontrar essas coisas?”
“Uma reside ao lado de você, a outra abaixo de você. Mas você ousaria estender a mão, para que possa pegar o que pode ser seu, e de suas crianças?”
"Symmachus..."
“Em minha pessoa reside a resposta de parte do que você procura. A outras reside escondida abaixo de nós nas minas desse seu reino, aquilo que nos dará o poder de concluir e alcançar nossos sonhos. Aquilo que Edward e Moraelyn entre eles usaram para libertar Pedralta e seus espíritos do odiado domínio dos Nórdicos. Se for devidamente usado, Milady, ninguém poderá ficar contra, nem mesmo o poder que o Imperador controla. Liberdade, você diz? Barenziah, liberdade ele dá das correntes que te prendem. Pense sobre, Milady.” Ele a beijou novamente, suave, e se retirou.
“Você está saindo...?” ela gritou. Seu corpo ansiava por ele.
“Por enquanto,” ele disse. “Prazeres da carne são nada comparados ao que podemos ter juntos. Gostaria que pensasse no que eu disse.”
“Eu não preciso pensar. O que devemos fazer? Quais preparativos devem ser feitos?”
“Porque – nenhum. As minas não podem ser acessadas livremente, isso é verdade. Mas com a Rainha a meu lado, quem irá se opor? Uma vez embaixo eu posso te guiar até onde essa coisa reside, e retira-la de seus local de descanso.”
Então a memória de seus estudos sem fim surgiu. “O Chifre de Invocação,” ele suspirou em temor. “É verdade? Poderia ser? Como você sabe? Eu li que ele está enterrado embaixo de incontáveis cavernas de Daggerfall."
“Não, por muito tempo estudei esse assunto. Antes de sua morte o Rei Edward deu o Chifre para proteção nas mãos de seu antigo amigo Rei Moraelyn. Ele em troca o manteve em segredo aqui em Forte da Lamentação sob a guarda do deus Ephen, cujo local de nascença é esse. Agora você sabe o que me custou mais de um ano e várias milhas para descobrir.”
“Mas o deus? E quanto a Ephen?”
“Confie em mim, Milady querida. Tudo ficará bem.” Sorrindo suave, ele a deu um último beijo e se retirou.
No amanhecer eles passaram pelos guardas nos grandes portões que levavam até as minas, e mais abaixo. Sob o pretexto de seu tour de inspeção usual, Barenziah, desacompanhada exceto pelo Rouxinol, se aventurou em caverna após caverna no subterrâneo. Eventualmente eles alcançaram o que parecia uma porta selada esquecida, e após entrarem descobriam que levava a uma parte antiga do funcionamento, a muito tempo abandonada. O caminho era traiçoeiro por alguns mastros caindo, e eles tiveram que abrir uma passagem dos entulhos ou encontrar um caminho que contornasse os caminhos ainda mais intransponíveis. Ratos depravados e grandes aranhas corriam aqui e ali, às vezes até os atacavam. Mas eles se provaram não serem nenhum desafio para os feitiços de raio de fogo de Barenziah ou a rápida adaga do Rouxinol.
“Nós sumimos tem muito tempo,” Barenziah disse. “Eles vão procurar por nós. O que vou dizer para eles?”
“O que você quiser,” o Rouxinol riu. “Você a Rainha, não é?”
“O Lorde Symmachus—“
“Os camponeses obedecem a quem quer que tenha o poder. Sempre foi, e sempre será. Nós devemos ter o poder, Milady amada.” Seus lábios eram do vinho mais doce, seu toque fogo e gelo.
“Agora,” ela disse, “me leve agora. Estou pronta.” Seu corpo parecia zumbir, cada nervo e musculo tenso.
“Não ainda. Não aqui, não desse jeito.” Ela saiu de perto, indicando antigos detritos e ameaçadoras paredes de pedra. “Só mais um pouco.” Relutante, Barenziah assentiu. Eles voltaram a andar.
“Aqui,” ele disse finalmente, parando em frente a uma barreira vazia. “Aqui ele repousa.” Ele arranhou uma ruma na poeira, sua outra mão conjurando um feitiço enquanto ele arranhava.
O murro dissolveu. Ele revelou uma a entrada para algum santuário antigo. No meio havia uma estátua de um deus, martelo na mão, pronto acima de uma bigorna de admantium [sic].
“Pelo meu sangue, Ephen,” o Rouxinol gritou, “Eu peço vosso despertar! Herdeiro de Moraelyn de Coração-Ébano sou eu, último da linhagem real, compartilhador de teu sangue. Na última necessidade de Morrowind, com todos de Élfico em terrível perigo e seus corpos e almas, libere para mim aquela recompensa com vós guardas! Agora eu suplico a ti, bata!”
Nessas palavras finais a estátua brilhou e acelerou, os vazios olhos de pedra brilharam com um brilho vermelho. A cabeça enorme assentiu, o martelo bateu na bigorna, e ela se partiu em um estouro tempestuoso. Barenziah tapou os ouvidos com as mãos e de encolheu, tremendo terrivelmente e gemendo alto.
O Rouxinol caminhou adiante corajosamente e agarrou a coisa que estava nas ruinas com um rugido de êxtase. Ele a levantou alto.
“Tem alguém vindo!” Barenziah gritou alarmada, então notou pela primeira vez o que ele estava segurando no alto. “Espera, isso não é o Chifre, é – é um cajado!”
“Certamente, Milady. Você vê verdadeiramente, afinal!” O Rouxinol gargalhou alto. “Me desculpe, doce Milady, mas eu devo te deixar agora. Talvez nos encontremos novamente um dia. Até lá... Ah, até lá, Symmachus,” ele disse para a figura em uma cota-de-malha que apareceu atrás deles, “ela é toda sua. Você pode tê-la de volta.”
“Não!” Barenziah gritou. Ela se levantou e correu até eles, mas ele havia desaparecido. Um piscar para fora da existência – assim como Symmachus, espada nas mãos, alcançou ele. Sua lâmina deferiu um único ataque no ar vazio. Então ele ficou parado, como se tivesse tomado o lugar do deus de pedra.
Barenziah disse nada, ouviu nada, viu nada... sentiu nada...
Symmachus disse a meia dúzia quase de Elfos que o havia acompanhado que o Rouxinol e Barenziah haviam perdido o caminho, e haviam sido atacados por aranhas gigantes. Que o Rouxinol havia pisado em falso e caído em um fundo buraco, que se fechou sobre ele. Que se corpo não poderia ser recuperado. Que a Rainha ficou gravemente abalada pelo encontro e lamentava a perda de seu amigo, que havia caído em sua defesa. Tal era a presença e poder de comando de Symmachus, que os cavaleiros, que nenhum havia pego um lampejo sequer do que aconteceu, ficaram convencidos de que o que aconteceu foi exatamente o que ele disse.
A Rainha foi escoltada de volta para o Palácio e levada para seus aposentos, onde ela dispensou seus serventes. Ela sentou na frente do espelho e lá ficou por muito tempo, atordoada, muito perturbada mesmo para chorar. Symmachus a observava parado.
“Você tem alguma ideia do que você acaba de fazer?” ele disse finalmente – liso, friamente.
“Você devia ter me contado,” Barenziah suspirou. “O Cajado do Caos! Eu nunca sequer sonhei que ele estivesse aqui. Ele disse – ele disse --” Um choramingar escapou de seus lábios e ela duplicou em desespero. “Oh, o que foi que eu fiz? O que foi que eu fiz? O que acontece agora? O que vai ser de mim? De nós?”
“Você o amava?”
“Sim. Sim, sim, sim! Oh Symmachus, os deuses tenham misericórdia de mim, mas eu o amava. Amava. Mas agora... agora... eu não sei... eu não tenho certeza... eu...”
A feição rígida de Symmachus suavizou levemente, e seus olhos brilharam com nova luz, e ele suspirou. “Eh. Isso é algo então. Você ainda irá ser uma mãe se estiver em meu poder. Quanto ao resto – Barenziah, minha querida Barenziah, eu acredito que você tenha libertado uma tempestade sobre a terra. A preparação ainda vai levar um tempo. Mas quando chegar, vamos suportar juntos. Assim como sempre fizemos.”
Ele veio até ela então, e tirou suas roupas, e a carregou até a cama. Fora de tristeza e anseio, seu corpo enfraquecido respondeu ao seu musculoso como nunca antes, derramando tudo que o Rouxinol havia despertado para a vida nela. E fazendo isso acalmou o fantasma inquieto de tudo que ele havia destruído.
Ela estava vazia, e esvaziada. E então ela foi preenchida, pois uma criança havia sido plantada e crescia dentro dela. Conforme seu filho florescia em seu ventre, assim fazia seu sentimento sobre o paciente, leal, devotado Symmachus, que havia enraizado em longa amizade e afeição inquebrável – e que agora, afinal, amadureceu na totalidade de amor verdadeiro. Oito anos depois eles foram novamente abençoados, dessa vez com uma filha.
Logo após o roubo de Cajado do Caos pelo Rouxinol, Symmachus mandou comunicados secretos urgentes para Uriel Septim. Ele não foi pessoalmente, como ele teria feito normalmente, escolhendo ficar com Barenziah durante seu período fértil para conceber um filho sobre ela. Por isso, e pelo roubo, ele sofreu o desfavor temporário e suspeita injusta de Uriel Septim. Espiões foram enviados em busca do ladrão, mas o Rouxinol parecia ter desaparecido de onde ele havia vindo – onde quer que fosse.
“Elfo Negro em parte, talvez,” disse Barenziah, “mas parte humana também, eu acho, disfarçada. Se não eu não teria vindo a fertilidade tão rápido.”
“Parte Elfo Negro, com certeza, e de antiga linhagem Ra'athim nisso, ou então ele não teria sido capaz de libertar o Cajado,” Symmachus raciocinou. Ele se virou para ela fixamente. “Eu não acredito que ele tenha se deitado com você. Como um Elfo ele não ousaria, que depois ele não seria capaz de se separar de você.” Ele sorriu. Então ficou sério novamente. “Eh! Ele sabia que o Cajado estava lá, não o Chifre, e que ele podia teletransportar para sua segurança. O Cajado não é uma arma que teria sido clara para ele, diferente do Chifre. Graças aos deuses ele pelo menos não tem isso! Parece que tudo foi como ele esperava – mas como ele sabia? Eu mesmo coloquei o Cajado lá, com a ajuda do final calda-de-pano do Clã Ra’athim que agora é rei no Castelo Coração-Ébano como recompensa. Tiber Septim clamou o Chifre, mas deixou o Cajado para proteção. Eh! Agora o Rouxinol pode usar o Cajado para semear sementes de conflito e discórdia onde quer que ele vá, se ele desejar. Ainda isso apenas não o garantirá poder. Isso está com o Chifre e a habilidade de usa-lo.”
“Não tenho certeza de que é poder que o Rouxinol busca,” Barenziah disse.
“Todos buscam poder,” Symmachus disse, “cada um a seu jeito.”
“Não eu,” ela respondeu. “Eu, Milorde, encontrei aquilo pelo qual busquei.” {{#ifeq:Lore|Tes3Mod||
Parte 5
Como Symmachus havia previsto, o roubo do Cajado do Caos teve poucas consequências a curto tempo. O atual Imperador, Uriel Septim, enviou algumas mensagens um tanto duras expressando espanto e desprazer quanto ao desaparecimento do Cajado, e pedindo a Symmachus para realizar cada esforço para localizar seu paradeiro e comunicar avanços para o recém indicado Mago-de-Batalha Imperial, Jagar Tharn, nas mãos do qual o assunto foi colocado
"Tharn!" Symmachus rompeu em desgosto e frustração enquanto andava no pequeno cômodo onde Barenziah, agora grávida de alguns meses, estava sentada serenamente bordando um cobertor de bebê. "Jagar Tharn, de fato. Eh! Eu não o daria instruções para atravessar a rua, nem se ele fosse um velho cego e trêmulo."
"O que você tem contra ele, amor?"
"Eu só não confio naquele Elfo mestiço. Parte Elfo Negro, parte Alto Elfo, e parte só os deuses sabem o que. Todas as piores qualidades de seu sangue combinado, eu garanto." Ele bufou. "Ninguém sabe muito sobre ele. Clama que ele nasceu no sul da Floresta de Valen, de uma mãe Elfa da Floresta. Ele parece ter estado em todo parte desde -- "
Barenziah, afundada no contentamento e lassitude da gravidez, havia apenas engraçado Symmachus até então. Mas agora ele subitamente soltou sua agulha e olhou para ele. Alguma coisa havia captado seu interesse. "Symmachus. Poderia esse Jagar Tharn sido o Rouxinol, disfarçado?"
Symmachus pensou sobre isso antes de responder. "Não, meu amor. Sangue humano parece ser o ingrediente faltante nos antepassados de Tharn." Para Symmachus, Barenziah sabia, isso era uma falha. Seu marido detestava Elfos da Floresta como ladrões preguiçosos e Altos Elfos como intelectuais incapazes. Mas ele admirava humanos, especialmente Bretões, por sua combinação de pragmatismo, inteligência e energia. "O Rouxinol é de Coração-Ébano, do Clã Ra'athim - Casa Hlaalu, a Casa de Mora em particular, eu diria. Aquela casa teve sangue humano nela desde o começo. Coração-Ébano ficou com ciúmes de o Cajado ser colocado aqui quando Tiber Septim pegou o Chifre de Invocação de nós."
Barenziah suspirou um pouco. A rivalidade entre Coração-Ébano e Forte da Lamentação volta até quase no alvorecer da história de Morrowind. Desde que as duas nações viraram uma, todas as minas lucrativas se mantiveram em campo pelos Ra'athims, cuja nobreza mantinha o Alto Reinado de Morrowind. Coração-Ébano se separou em duas cidades-estado, Coração-Ébano e Forte da Lamentação, quando os filhos gêmeos da Rainha Lian – netos do lendário Rei Moraelyn – foram deixados como herdeiros juntos. Por volta do mesmo tempo o escritório de Alto Rei estava vago em favor de uma Guerra de Líder temporária, a ser nomeado por um conselho em tempos de emergência provincial.
Ainda, Coração-Ébano permaneceu com ciúmes de suas prerrogativas como a cidade-estado mais antiga de Morrowind ("primeira entre iguais" era frase que seus governantes frequentemente mencionavam) e clamava que o direito de guardar o Cajado do Caos devia ter sido confiado a sua casa governante. Forte da Lamentação respondeu que o próprio Rei Moraelyn havia depositado o Cajado na proteção do deus Ephen – e Forte da Lamentação era, sem argumentação, o local de nascença do deus.
"Por que não contar a Jagar Tharn de suas suspeitas, então? Deixe ele recuperar a coisa. Desde que esteja seguro, de que importa quem recupera, ou onde ele fica?"
Symmachus a encarou sem compreensão. "Importa," ele disse suava após um tempo, "mas eu acredito que não muito. Eh." Ele acrescentou, "Certamente não o bastante para você se preocupar mais com isso. Apenas sente-se aí e cuide de seus," e aqui ele sorriu para ela perversamente, "bordados."
Barenziah arremessou o cobertor nele. Ele acertou Symmachus no meio da cara -- agulha, dedal e tudo.
Em mais alguns poucos meses, Barenziah deu à luz a um belo filho, o qual eles batizaram de Helseth. Nada mais foi ouvido do Cajado do Caos, ou o Rouxinol. Se Coração-Ébano tivesse o Cajado em sua posse, eles certamente não se gabaram disso.
Os anos passaram rápidos e felizes. Helseth cresceu alto e forte. Ele era muito parecido com seu pai, a quem ele adorava. Quando Helseth tinha oito anos, Barenziah teve uma segunda criança, uma filha, para o deleite de Symmachus. Helseth era seu orgulho, mas a pequena Morgiah – batizada no mesmo nome da mãe de Symmachus – sustentava seu coração.
Infelizmente, o nascimento de Morgiah não foi arauto de bons tempos por vir. Relações com o império deterioraram vagarosamente, por nenhum motivo aparente. Impostos foram aumentados e cotas aumentavam a cada ano. Symmachus sentia que o Imperador suspeitava que ele estivesse envolvido no desaparecimento do Cajado, e buscou provar sua lealdade fazendo todo o esforço para suprir as demandas. Ele alongou as horas de trabalho e subiu tarifas, e até mesmo fez uma diferença tanto do tesouro público real quanto de seu próprio bolso. Mas eles multiplicaram, e comuns e nobres juntamente começaram a reclamar. Foi um estrondo sinistro.
"Eu quero que você pegue as crianças e viaje para a Cidade Imperial," Symmachus finalmente disse em desespero durante um jantar. "Você deve fazer o Imperador ouvir, ou todo Forte da Lamentação estará em revolta na primavera." Ele deu um sorriso forçado. "Você sempre teve um jeito com homens, amor. Sempre teve."
Barenziah forçou um sorriso também. "Até mesmo com você, eu acho."
"Sim. Especialmente comigo," ele reconheceu amavelmente.
"Ambas crianças?" Barenziah olhou para uma janela no canto, onde Helseth tocando um alaúde um cantando um dueto com sua pequena irmã. Helseth tinha quinze agora, Morgiah oito.
“Eles podem amolecer o coração dele. Além disso, já é hora de Helseth ser apresentado perante a Corte Imperial."
"Talvez. Mas esse não é seu verdadeiro motivo." Barenziah respirou fundo e agarrou a agulha. "Você não acha que pode mantê-los seguros aqui. Se for esse o caso, então nem você está seguro. Venha com a gente," ela pediu.
Se segurou as mãos dela. "Barenziah. Meu amor. Coração de meu coração. Se eu sair agora, não haverá nada para nós retornarmos. Não se preocupe comigo. Eu vou ficar bem. Eh! Eu posso cuidar de mim mesmo – e eu posso fazer isso melhor se não estiver preocupado com você e as crianças."
Barenziah deitou a cabeça no peito dele. "Só lembre que precisamos de você. Eu preciso de você. Podemos dar5 conta sem o resto se tivermos um ao outro. Mãos vazias e estômagos vazios são mais fáceis de lidar do que um coração vazio." Ela começou a chorar, pensando no Rouxinol e aquele assunto sórdido sobre o Cajado. "Minha idiotice nos fez passar por isso."
Ele sorriu para ela ternamente. "Se for, não é um lugar tão ruim para estar." Seus olhou repousaram indulgentemente nas crianças. "Nenhum de nós deve jamais ir sem, ou querer alguma coisa. Jamais. Jamais, meu amor, eu te prometo. Eu te custei tudo uma vez, Barenziah, eu e Tiber Septim. Eh. Sem minha ajuda o Império nunca teria começado. Eu o ajudei a se erguer." Sua voz ficou mais rígida. "Eu posso trazer sua queda. Você pode dizer isso a Uriel Septim. Isso, e que minha paciência não é infinita."
Barenziah ofegou. Symmachus não se dava a tratados vazios. Ele ne imaginava que algum dia ele iria se voltar contra o Império assim como o velho lobo da casa que ficava no portão se voltaria contra ela. "Como?" Ela demandou sem ar. Mas ele balançou a cabeça.
"É melhor você não saber," ele disse. "Apenas diga a ele o que eu te disse caso ele se mostre teimoso, e não tenha medo. Ele é Septim o bastante para não fazer nada com a mensageira." Ele sorriu sombriamente. "Porque se ele fizer, se ele tocar um cabelo se sequer, meu amor, ou as crianças – que todos os deuses de Tamriel me ajudem, ele vai rezar para não ter nascido. Eh. Eu vou caçar ele, ele e sua família inteira. E eu não vou descansar até que o último Septim esteja morto." Os olhos vermelhos de Elfo Negro de Symmachus lampejaram no refluxo da lareira. "Eu empenho em você esse juramento, meu amor. Minha Rainha... minha Barenziah."
Barenziah o segurou, o segurou o mais firme que podia. Mas mesmo com o calor de seu corpo, ela não pode evitar de tremer.
Barenziah estava de frente para o trono do Imperador, tentando explicar a situação do Forte da Lamentação. Ela esperou duas semanas para uma audiência com Uriel Septim, tendo sido enrolada no pretexto disso ou daquilo. "Vossa Majestade está indisposta.", "um assunto urgente demanda a atenção de Vossa Excelência.", "Me desculpe, Sua Alteza, deve haver algum erro. Sua audiência está marcada para a próxima semana. Não, olha...". E agora não estava saindo bem. O Imperador nem sequer fingiu estar ouvido ela. Ele não a convidou para se sentar, nem retirou as crianças. Helseth ficava de pé como uma estátua, mas a pequena Morgiah havia começado a ficar inquieta.
O estado de sua própria mente também não ajudava. Pouco depois de chegar em seu alojamento, o embaixador do Forte da Lamentação na Cidade Imperial havia requerido entrada, trazendo com ele um molho de despaches de Symmachus. Notícias ruins, e um monte delas. A revolta havia finalmente começado. Os camponeses haviam juntado alguns membros descontentes da nobreza menor do Forte da lamentação, e estavam demandando que Symmachus abdicasse e entregasse as rédeas do governo. Apenas a Guarda Imperial e algumas tropas cujas famílias haviam sido partidárias da casa de Barenziah por gerações permaneceram entre Symmachus e a multidão. Hostilidades já haviam irrompido, mas aparentemente Symmachus estava seguro e ainda no controle. Não por muito tempo, ele escreveu. Ele suplicou que Barenziah tentasse seu melhor com o Imperador – mas em qualquer caso ela deveria permanecer na Cidade Imperial até que ele escrevesse para contar a ela que era seguro voltar para casa com as crianças.
Ela tentou abrir seu caminho dentro da burocracia imperial – com pouco sucesso. E para acrescentar ao seu pânico crescente, todas as notícias do Forte da Lamentação cessaram de repente. Cambaleante entre fúria nos numerosos domos-maiores do Imperador e medo do destino que aguardava ela e sua família, as semanas se passaram tensa, agonizante e impiedosamente. Então um dia o embaixador do Forte da Lamentação veio chamando para contar que ela deveria esperar notícias de Symmachus na noite seguinte no mais tardar, mas não pelos canais normais, mas por falcão. Aparentemente pelo mesmo ataque de sorte, ela foi informada naquele mesmo dia por um secretário da Corte Imperial que Uriel Septim havia finalmente consentido em ter uma audiência com ela cedo pela manhã.
O imperador cumprimentou os três com um sorriso de boas-vindas bem brilhante que, no entanto, não chegava aos seus olhos, quando eles chegaram na câmara da audiência. Então, enquanto ela apresentava as crianças, ele as encarou com uma atenção fixa que era real ainda um pouco inapropriada. Barenziah havia lidado com humanos a quase quinhentos anos até agora, e havia desenvolvido a habilidade de ler suas expressões e movimentos e era além do que qualquer humano poderia perceber. O Imperador, tentando como podia para esconder isso, havia fome em seus olhos – e algo mais. Arrependimento? Sim. Arrependimento. Mas porquê? Ele tinha várias crianças de si próprio. Porque cobiçar as suas? E porque olhar para ela com um vicioso – embora breve -- desejo? Talvez ele tivesse se cansado de sua esposa. Humanos eram notoriamente, apesar de previsivelmente, inconstantes. Depois desse longo, ardente relance, seu olhar se virou conforme ela começou a falar de sua missão e a violência que havia irrompido em Forte da Lamentação. Ele sentou parado como pedra durante todo seu conto.
Intrigada com sua inércia, e contraria por não acabar, Barenziah encarou o rosto pálido e fixo, procurando por algum traço dos Septims que ela conhecia no passado. Ela não conhecia Uriel Septim bem, tendo encontrado ele apenas uma vez quando ele era ainda uma criança, e então novamente em sua coroação vinte anos depois. Duas vezes, era tudo. Ele havia sido uma presença severa e digna na cerimônia, mesmo como um jovem adulto – mas não glacialmente remoto como esse homem maduro era. De fato, apesar do semblante físico, ele não parecia ser o mesmo homem de jeito nenhum. Não o mesmo, mas ainda algo nele era familiar para ela, mais familiar do que deveria ser, algum truque de postura ou gesto...
De repente elas e sentiu muito quente, como se tivesse derramado lava sobre ela. Ilusão! Ela havia estudado bem as artes de ilusão desde que o Rouxinol a enganou daquela forma. Ela aprendeu a detecta-la -- e ela a sentia agora, tão certo quanto um homem cego poderia sentir o sol em seu rosto. Ilusão! Mas porquê? Sua mente trabalhou furiosamente mesmo enquanto sua boca ia recitando os problemas do Forte da Lamentação. Vaidade? Humanos ficavam envergonhados frequentemente com os sinais de ageing [sic] enquanto os Elfos eram orgulhosos em exibi-los. Ainda, o rosto que Uriel Septim tinha parecia consistente com sua idade.
Barenziah não ousou usar alguma de suas magias. Mesmo nobres baixos possuíam meios de detectar mágica, se não normalmente se protegiam de seus efeitos, dentro de seus próprios salões. O uso de feitiçaria aqui traria a fúria do Imperador tanto quanto brandir uma adaga iria.
Magia.
Ilusão.
De repente o Rouxinol a veio em mente. E então ele estava sentado diante dela. E então a visão mudou, e era Uriel Septim. Ele parecia triste. Preso. E então a visão sumiu mais uma vez, e outro homem sentava em seu lugar, como o Rouxinol, mas ainda diferente. Pele pálida, olhos vermelhos, orelhas Élficas – e sobre ele um forte brilho de malícia concentrada, uma aura de energia terrível – um brilho destrutivo, horrível. Esse homem era capaz de qualquer coisa!
E então novamente ela estava olhando para o rosto de Uriel Septim.
Como ela poderia ter certeza de que não estava apenas imaginando coisas? Talvez sua mente estava pregando peças nela. Ela sentiu um grande cansaço repentino, como se ela estivesse carregando um fardo muito pesado por muito tempo. Ela decidiu abandonar sua séria narrativa sobre as feridas do Forte da Lamentação – já que estavam claramente levando ela a lugar nenhum – e alternou de volta para o gracejo. Gracejo, contudo, com uma agenda escondida.
"Você se lembra, Senhor, Symmachus e eu tivemos um jantar com você e sua família logo após a coroação de seu pai? Você não era mais velho que a pequena Morgiah aqui. Nós fomos grandemente honrados em ser os únicos convidados daquela noite – exceto por seu melhor amigo Justin, é claro."
"Ah sim," o Imperador disse, sorrindo cautelosamente. Muito cautelosamente. “Acho que me recordo disso sim."
"Você e Justin eram tão amigos, Vossa Majestade. Me foi dito que ele morreu não muito depois. Uma grande pena."
"Certamente. Eu ainda não gosto de falar dele.” Seus olhos ficaram vazios – ou mais vazios, se fosse possível. “Quanto ao seu pedido, Milady, nós levaremos sobre conselho e te informaremos."
Barenziah se curvou, e também as crianças. Um aceno do Imperador os dispensou, e eles se retiraram da presença imperial.
Ela respirou fundo quando eles saíram da sala do trono. "Justin" havia sido um companheiro imaginário, apesar do jovem Uriel ter insistido que um lugar fosse colocado para Justin em cada refeição. Não apenas isso, Justin, apesar do nome masculino, era uma garota! Symmachus manteve as piadas mesmo depois de ela ter passado dos amigos imaginários de infância – perguntando sobre a saúde de Justin sempre que ele e Uriel Septim se encontravam, e sendo respondido de uma forma de zombaria-seriedade. A última coisa que Barenziah havia ouvido sobre Justin, muitos anos atrás, que o Imperador havia brincado de forma bem elaborada com Symmachus dizendo que ela havia conhecido um jovem Khajiit aventureiro porém incorrigível, casado com ele, e se estabelecido em Lilandril para criar samambaias de fogo e mugworts.
O homem sentado no divã do Imperador não era Uriel Septim! O Rouxinol? Poderia ser...? Sim. Sim! Um sentimento de reconhecimento tocou por ela e Barenziah sabia que estava certa. Era ele. Era ele! O Rouxinol! Se mascarando como o Imperador! Symmachus esteve errado, tão errado...
Agora o que? ela se perguntava freneticamente. O que havia acontecido com Uriel Septim – e mais ao ponto, o que isso significava para ela e Symmachus, e todo o Forte da Lamentação? Pensando de volta, Barenziah suspeitou que seus problemas eram devidos a esse falso Imperador, esse glamour gerado de Rouxinol – ou o que quer que ele realmente fosse. Ele deve ter tomado o lugar e Uriel Septim pouco antes das demandas irracionais sobre Forte da Lamentação terem começado. Isso explicaria porque as relações se deterioraram por tanto tempo (como os humanos reconheciam o tempo), muito depois de ela desaprovar ligações com Tiber Septim. O Rouxinol sabia da famosa lealdade de Symmachus para, e conhecimento sobre, a Casa Septim, e estava efetuando um ataque preventivo. Se esse fosse o caso, todos eles estavam em terrível perigo. Ela e as crianças estavam sob seu poder aqui na Cidade Imperial, e Symmachus foi deixado sozinho para lidar com problemas do Rouxinol no Forte da Lamentação.
O que ela deveria fazer? Barenziah empurrou as crianças para irem na sua frente, uma mão em cada ombro, tentando ficar fria, calma, suas camareiras e cavaleiros de escolta pessoais andando atrás. Finalmente eles chegaram na carruagem que os esperava. Mesmo que suas suítes eram apenas algumas quadras do Palácio, dignidade real os proibia de viajar a pé até mesmo por curtas distâncias – e por uma vez, Barenziah ficou contente com isso. A carruagem parecia uma espécie de refúgio agora, falso como ela acreditava que os sentimentos fossem.
Um garoto ceio até um dos guardas e o entregou um pergaminho, e então apontou para a carruagem. O guarda o levou até ela. O garoto esperou, olhos grandes e brilhantes. A carta era curta e amável, e simplesmente inquiria se o Rei Eadwyre de Pousatrilha, da Província de Pedra Alta, poderia ser garantido uma audiência com a famosa Rainha Barenziah de Forte da Lamentação, já que ele havia ouvido falar muito dela e seria um prazer conhece-la.
O primeiro impulso de Barenziah foi de recusar. Ela só queria sair dessa cidade! Certamente ela não tinha nenhuma inclinação para brincadeiras com um humano deslumbrado. Ela olhou para cima, carrancuda, e um dos guardas disse, “Mileide, o garoto disse que seu mestre aguarda a sua resposta além.” Ela olhou na direção indicada e viu um homem idoso e bonito nas costas de um cavalo, cercado por meia dúzia de cortesãos e cavaleiros. Ele pegou seu olhar e se curvou respeitosamente, tirando um chapéu de plumas.
"Muito bem," Barenziah disse para o garoto em impulso. "Diga a seu mestre que ele pode me chamar hoje à noite, após a hora do jantar. “ O Rei Eadwyre parecia educado e sério, e um tanto preocupado – mas não no mínimo apaixonado. Pelo menos isso era alguma coisa, ela ficou pensativa.
Barenziah estava na janela da torre, esperando. Ela podia sentir a proximidade do familiar. Mas apesar de o céu noturno estar claro como dia para seus olhos, ela ainda não conseguia ver ele. Então de repente ele estava lá, um ponto se movendo rápido nas finas nuvens da noite. Mais alguns poucos minutos e o grande falcão finalizou sua descida, asas fechando, garras mirando em sua braçadeira de couro.
Ela carregou o pássaro até o seu poleiro, onde ele esperou, ofegante, enquanto seus dedos impacientes pegavam a mensagem protegida em uma capsula em uma das pernas. O falcão bebeu poderosamente da água até que ela acabasse, então bagunçou as penas e as alisou, seguro na presença dela. Uma pequena parte de sua consciência compartilhava sua satisfação no trabalho bem feito, missão concluída, e descanso ganho... ainda debaixo disso tudo havia inquietação. As coisas não estavam certas, até mesmo para sua simples mente aviária.
Seus dedos tremeram enquanto ela desdobrava o fino papel e se debruçava sobre a escrita pouco clara. Não era a escrita firme de Symmachus! Barenziah se sentou devagar, dedos deslizando peliodocumento enquanto ela preparava sua mente e corpo para aceitar o desastre calmamente, se desastre fosse.
E desastre era.
A Guarda Imperial havia desertado Symmachus e se juntado aos rebeldes. Symmachus estava morto. As tropas leais remanescentes haviam sofrido uma derrota decisiva. Symmachus estava morto. O líder rebelde havia sido reconhecido como Rei do Forte da Lamentação por embaixadores Imperiais. Symmachus estava morto. Barenziah e seus filhos haviam sido declarados traidores do Império e um preço foi colocado em suas cabeças.
Symmachus estava morto
Então a audiência com o Imperador mais cedo naquela manhã não havia sido nada mais que um engano, uma fraude. Uma charada. O Imperador já deveria saber. Ela só for amarrada ao longo de tudo, ordenada a ficar submetida, levar as coisas fácil, Mileide Rainha, aproveite a Cidade Imperial e os deleites que ela tem a oferecer, faça sua estadia a mais longa que quiser. Sua estadia? Sua detenção. Seu cativeiro. E em toda probabilidade, sua prisão iminente. Ela não tinha ilusões sobre sua situação. Ela sabia que o Imperador e seus servos nunca a deixariam sair da Cidade Imperial, nunca mais. Pelo menos, não viva.
Symmachus estava morto.
"Mileide?"
Barenziah pulou, assustada pela aproximação do criado. "O que é?"
"O Bretão está aqui, Mileide. Rei Eadwyre," a mulher acrescentou, prestativa, notando a incompreensão de Barenziah. Ela hesitou. “Há notícias, Mileide?” ela disse, apontando para o falcão.
"Nada que não irá esperar,” Barenziah disse rápido, e sua voz pareceu ecoar no vazio que repentinamente se abriu como um abismo escancarado dentro dela. “Cuide do pássaro.” Ela se levantou, alisou seu vestido, e se preparou para receber seu visitante real.
Ela se sentiu paralisada. Paralisada como os muros de pedra ao redor dela, paralisada como a quietude no ar noturno… paralisada como um corpo sem vida.
Symmachus estava morto!
Rei Eadwyre a recebeu com seriedade e cortesia, até um pouco exagerado. Ele clamou ser um admirador fervoroso de Symmachus, que era figurado com destaque nas lendas de sua família. Gradualmente ele voltou a conversa para os negócios dela com o Imperador. Ele requisitou detalhes, e perguntou se a finalização havia sido favorável para o Forte da Lamentação. A encontrando evasiva, ele repentinamente soltou, “Rainha Mileide, você tem que acreditar em mim. O homem que diz ser o Imperador é um impostor! Eu sei que parece loucura, mas eu -- “
"Não," Barenziah disse, com decisão repentina. “Você está inteiramente correto, Rei Milorde. Eu sei.”
Eadwyre relaxou em seu assento pela primeira vez, o olhar vivo de repente. “Você sabe? Você não está apenas fazendo graça com alguém que você acha que é louco?”
"Eu te garanto, Milorde, eu não estou.” Ela respirou fundo. “E quem você acredita que está dissimulando o Imperador?”
"O Mago de Batalha Imperial, Jagar Tharn."
"Ah. Milorde Rei, você teria, por acaso, ouvido sobre alguém chamado depois o Rouxinol?”
"Sim, Milady, como fato eu ouvi sim. Meus aliadod e eu acreditamos que ele é o mesmo homem que o renegado Tharn."
"Eu sabia!” Barenziah se levantou e tentou mascarar seu levante. O Rouxinol -- Jagar Tharn! Há, mas o homem era um demônio! Diabólico e insidioso. E tão esperto. Ele havia planejado sua ruína perfeitamente, perfeitamente! Symmachus, meu Symmachus…!
Eadwyre tossiu diferente. “Mileide, eu… nós… nós precisamos de sua ajuda.”
Barenziah sorriu sombriamente na ironia. “Eu acredito que deve ser eu a dizer essas palavras. Mas continue, por favor. Do que ajuda você pode precisar, Milorde Rei?”
Rapidamente o monarca traçou um plano. A maga Ria Silmane, nos últimos tempos aprendiz do vil Jagar Tharn, havia sido morta e declarada uma traidora pelo falso Imperador. Ainda ela conseguiu manter alguns de seus poderes e ainda podia contactar alguns daqueles que ela havia conhecido bem no plano mortal. Ela havia escolhido um Campeão que iria encontrar o Cajado do Caos, que havia sido escondido pelo feiticeiro traiçoeiro em algum lugar desconhecido. Esse Campeão usaria o poder do Cajado para destruir Jagar Tharn, que caso contrário é invulnerável, e resgatar o verdadeiro Imperador mantido em uma outra dimensão. Contudo, o Campeão, enquanto felizmente ainda vivo, agora definhava nas Masmorras Imperiais. A atenção de Tharn deveria ser divergida enquanto o escolhido ganhava suas liberdade com a ajuda do espírito de Ria. Barenziah tinha os ouvidos do falso Imperador -- e aparentemente seus olhos. Será que ela proveria a distração necessária?
"Eu acho que posso obter outra audiência com ele,” Barenziah disse com cuidado. “Mas isso seria suficiente? Eu devo te dizer que meus filhos e eu acabos de ser recentemente declarados traidores do Império.”
"No Forte da Lamentação, talvez, Mileide, e Morrowind. As coisas são diferentes na Cidade Imperial e na Província Imperial. O mesmo pântano administrativo que faz quase impossível se ter uma audiência com o Imperador e seus ministros também meio que garante que você nunca seria presa ilegalmente ou punida sem o benefício do devido processo legal. Em seus caso, Mileide, e seus filhos, a situação é ainda mais exacerbada pelo seu nível real. Como Rainha e herdeiros aparentes, suas pessoas são consideradas invioláveis -- sacrossantos, de fato.” O Rei sorriu. “A burocracia Imperial, Mileide, é uma claymore de duas pontas.”
Então. Pelo menos ela e seus filhos estavam seguros por enquanto. Então um pensamento batel nela. “Milorde Rei, o que você quis dizer mais antes quando disse que eu tenho os olhos do Imperador falso?
Eadwyre olhou desconfortável. "Foi murmurado entre os servos que Jagar Tharn mantém sua imagem em uma espécie de altar nos aposentos dele.”
“Percebo." Seus pensamentos vagaram momentaneamente para aquele romance insano dela com o Rouxinol. Ela ficou loucamente apaixonada por ele. Mulher burra. E o homem que ela um dia amou havia causado a morte do homem que ela verdadeiramente amava. Amava. Amava. Ele se foi agora, ele está… ele está… ela ainda não conseguia aceitar o fato de que Symmachus estava morto. Mas mesmo que ele esteja, ela disse a si mesma firmemente,meu amor está vivo, e permanece. Ele sempre estaria com ela. Assim como a dor. A dor de viver o resto de sua vida sem ele. A dor de tentar sobreviver cada dia, cada noite, sem sua presença, seu conforto, seu amor. A dor de saber que ele nunca viria seus filhos crescer em um belo par de adultos, que nunca conheceram seu pai, quão valente ele era, quão forte, quão maravilhoso, quão amoroso… especialmente a pequena Morgiah.
E por isso, por tudo isso, por tudo que você fez a minha família, Rouxinol -- você deve morrer.
"Isso te surpreende?”
As palavras de Eadwyre romperam seus pensamentos. “O que? O que me surpreende?”
“Sua imagem. No quarto de Tharn.”
"Oh." Suas características permaneceram imperturbadas. “Sim. E não.”
Eadwyre podia ver de sua expressão que ela desejava mudar de assunto. Ele voltou novamente para os planos. “Nosso escolhido pode precisar de alguns dias para escapar, Mileide. Você pode dar a ele um pouco mais de tempo?”
"Você me confia nisso, Milorde Rei? Por quê?”
"Nós estamos desesperados, Mileide. Não temos escolha. Mas mesmo se tivéssemos -- por quê, sim. Sim, eu confiaria em você. Eu confio em você. Seu marido têm sido bom para minha família por anos. O Lorde Symmachus--”
“Está morto."
"O quê?"
Barenziah relatou os eventos recentes de forma rápida e seca.
"Mileide... Rainha... Mas que horrível! Eu... Eu sinto muito..."
Pela primeira vez, a pose glacial dr Barenziah foi abalada. No semblante de simpatia, ela sentiu sua calma exterior começar a desabar. Ela se recompôs, e quis ficar calma.
"Sob essas circunstâncias, Mileide, nós mal podemos pedir--"
"Não, bom Senhor. Sob as circunstâncias eu devo fazer o que posso para me vingar sobre o assassino do pai de meus filhos.” Uma lágrima escapou da fortaleza de seus olhos. Ela a enxugou impacientemente. “Em troca eu peço apenas que proteja meus filhos órfãos da forma que puder."
Eadwyre se desenhou. Seus olhos brilhavam. “De bom grado para fazê-lo eu peço, mais nobre e valente Rainha. Os deuses de nossa amada terra, certamente Tamriel em si, sejam minhas testemunhas.”
Suas palavras a tocaram absurdas, ainda que profundamente. “Eu lhe agradeço de coração e alma, bom Milorde Rei Eadwyre. Você têm a e-eterna g-gratidão m-minha e-e d-de m-eus f-fi -- fi ---”
Ela desabou.
Ela não dormiu naquela noite, mas se sentou numa cadeira no pé de sua cama, as mãos sobre o colo, pensando profunda e longamente adentro na escuridão polida e minguante. Ela não contaria para as crianças -- não ainda, não até que ela precisasse.
Ela não precisava buscar por outra audiência com o Imperador. Um mensageiro chegou na primeira luz.
Ela disse para as crianças que esperava fica fora por alguns dias, os disseram para não dar trabalho para os serviçais, e os deu um beijo de despedida. Morgiah choramingou um pouco; ela estava entediada e sozinha na Cidade Imperial. Helseth olhou severo mas não disse nada. Ela era muito parecido com o pai. O pai ...
No Palácio Imperial, Barenziah não foi escoltada para para o grande salão de audiências, mas para uma pequena sala onde o Imperador estava sentado em um solitário café-da-manhã. Ela assentiu um cumprimento e balançou a mão em direção à janela. “Uma vista magnífica, não?”
Barenziah olhou para fora pela torres da grande cidade. Começou a parecer para ela que essa foi a mesma sala em que ela encontrou Tiber Septim pela primeira vez todos aqueles anos atrás. Séculos atrás. Tiber Septim. Outro homem que ela amou. Quem mais ela amou? Symmachus, Tiber Septim… e Straw. Ela se lembrou do grande rapaz loiro dos estábulos com repentina e intensa afeição. Ela nunca havia notado até então, mas ela havia amado Straw. Apenas que ela nunca o deixou saber. Ela era tão jovem na época, aqueles haviam sido dias descuidados, dias calmos… antes de todo o resto, antes de tudo isso… antes… dele. Não Symmachus. O Rouxinol. Ela estava chocada em ódio próprio. O homem ainda podia afeta-la. Mesmo agora. Mesmo depois de tudo que aconteceu. Uma forte onda de emoções imperfeitas bateu nela.
Quando ela se virou de volta novamente, Uriel Septim havia desaparecido -- e o Rouxinol estava sentado no lugar dele.
"Você sabia,” ele disse baixinho, escaneando o rosto dela. “Você sabia. Instantaneamente. Eu queria te surpreender. Você podia pelo menos ter fingido.”
Barenziah espalhou seus braços, tentando pacificar o redemoinho se formando fundo dentro dela. “Temo que minha habilidade de fingir não é páreo para a sua, meu suserano.”
Ele suspirou. "Está nervosa."
"Apenas um pouco, tenho que admitir,” ela disse friamente. “Não sei quanto a você, mas considero traição uma ofensa sem importância.”
"Quão humano de você.”
Ela respirou fundo. “O que você quer de mim?”
"Agora você está fingindo.” Ele levantou para olhar para ela diretamente. “Você sabe o que eu quero de você.”
"Você quer me torturar. Vá em frente. Estou em seu poder. Mas deixe meus filhos em paz.”
"Não, não, não. Não quero nada disso Barenziah.” Ele chegou perto, falando baixo na antiga voz acariciante que havia enviado cascatas de arrepio pelo seu corpo. A mesma voz que estava fazendo o mesmo com ela, aqui e agora. “Não vê? Esse era o único jeito.” Suas mãos se fecharam nos braços dela.
Ela sentiu sua determinação se dissolver, seu nojo por ele enfraquecer. “Você poderia ter me levado com você.” Lágrimas espontâneas se juntaram em seus olhos.
Ele balançou a cabeça. “Eu não tinha o poder. Ah,mas agora, agora…! Eu tenho ele todo. Meu para ter, meu para compartilhar, meu para dar -- para você.” Mais uma vez ele moveu a mão na direção da janela e a cidade além. “Toda Tamriel é minha para deixar aos seus pés -- e isso é só o começo.”
"É tarde demais. Tarde demais. Você me deixou com ele.”
"Ele está morto. Os camponeses estão mortos. Alguns poucos anos -- de quê eles importam?”
"As crianças--"
"Podem ser adotadas por mim. E vamos ter outros juntos, Barenziah. Oh, e que crianças elas não serão! O que passaremos para eles! Sua beleza, e minha magia. Eu possuo poderes dos quais você nunca sequer sonhou, nem em suas imaginações mais indomadas!” Ele moveu para beija-la.
Ela deslizou de seu agarro e se virou. “Eu não acredito em você.”
"Você confia, você sabe. Você ainda está com raiva, isso é tudo.” Ele sorriu. Mas não alcançou os olhos. “Me diga o que quiser Barenziah. Barenziah minha amada. Me conte. E será seu.”
Sua vida inteira passou diante dos olhos. O passado, o presente, e o futuro ainda por vie. Diferentes tempos, diferentes vidas, diferentes Barenziahs. Qual era a verdadeira? Qual era a verdadeira Barenziah? Pois por essa escolha ela determinaria a forma de seu destino.
Ela escolheu. Ela sabia. Ela sabia quem a verdadeira Barenziah era, e o que ela queria.
"Uma caminhada no jardim, meu suserano,” ela disse. “Uma canção ou duas, talvez.”
O Rouxinol riu. “Você quer ser cortejada.”
"E porquê não? Você faz isso tão bem. Faz muito tempo, além do mais, que sinto esse prazer.”
Ele sorriu. “Como desejar Mileide Rainha Barenziah. Seu desejo é uma ordem.” Ele pegou a mão dela e beijou. “Agora, e para sempre.”
E então eles passaram seus dias em cortejo -- caminhando, conversando, cantando e rindo juntos, enquanto o trabalho do Imperador era deixado para subordinados.
"Eu gostaria de ver o Cajado,” Barenziah disse futilmente um dia. “Eu tive apenas um relance dele, você se lembra.”
Ele franziu a testa. “Nada me daria mais prazer, alegria do coração -- mas isso seria impossível.”
"Você não confia em mim,” Barenziah amuou, mas suavizou seus lábios quando ele se aproximou para um beijo.
"Absurdo, amor. É claro que confio. Mas ele não está aqui.” Ele riu. “De fato, ele não está em lugar nenhum.” Ele a beijou novamente, mais apaixonado dessa vez.
"Você está falando em charadas novamente. Eu quero ver ele. Você não poderia ter destruído ele.”
"Ah. Você ganhou em sabedoria desde nosso último encontro.”
"Você um tanto que inspirou minha fome por conhecimento.” Ela se levantou. “O Cajado do Caos não pode ser destruído. E ele não pode ser retirado de Tamriel, não sem as mais medonhas consequências sobre a própria terra.”
"Ahhh. Você me impressiona, meu amor. Tudo verdade. Ele não está destruído, e não foi retirado de Tamriel. E ainda, como eu disse, não está em lugar nenhum. Você pode resolver esse quebra-cabeça?” Ela a puxou para si e ela se inclinou em seu abraço. “Aqui vai uma charada ainda maior,” ele sussurrou. “Como alguém faz de um, dois? Isso eu posso, e vou, te mostrar.” Seus corpos emergiram, membros entrelaçados juntos.
Mais tarde, quando eles haviam se separado um pouco e ele estava cochilando, ela pensou sonolenta, “Um de dois, dois de um, três de dois, dois de três… o que não pode ser destruído ou banido pode ser separado, talvez…”
Ela se levantoy, olhos incendiando. Ela começou a sorrir.
O Rouxinol mantinha um diário. Ele escrevia entradas nele cada noite após rápidos relatórios de subalternos. Ele era trancado em uma mesa. Mas a tranca era simples. Ela havia, contudo, sido membra da Guilda dos Ladrões em uma vida passada… em outra vida… outra Barenziah...
Uma manhã Barenziah conseguiu se esgueirar e dar uma olhada rápida nele enquanto ele estava ocupado no banheiro. Ela descobriu que a primeira peça do Cajado do Caos estava escondido em uma antiga mina Anã chamada Lar da Presa -- apesar de que sua localização era dada apenas em termos vagos. O diário estava abarrotado com anotações de eventos em uma escrita estranha, e era bem difícil de descifrar.
Toda Tamriel, ela pensou, na mão dele e na minha, e mais talvez -- e ainda...
Para todo seu charme exterior havia um vazio frio onde seu coração deveria estar, um vazio do qual ele não estava ciente, ela pensou. Era possível perceber um momento ou outro, quando seus olhos ficavam vazios e rígidos. E ainda, mas ele possuia uma concepção diferente disso, ele ansiava pela felicidade também, e contentamento. Sonhos camponeses, Barenziah pensou, e Straw passou por seus olhos novamente, parecendo perdido e triste. E depois Therris, com um sorriso felino Khajiit. Tiber Septim, poderoso e solitário. Symmachus, sólido, imperturbável Symmachus, que fez o que jurava fazer, em silêncio e eficiência. O Rouxinol. O Rouxinol, uma charada e uma certeza, tanto a escuridão quanto a luz. O Rouxinol, que governaria tudo, e mais -- e espalhava caos em nome da ordem.
Barenziah ficou relutante em deixar ele para ir visitar seus filhos, que ainda deveriam ser contados sobre a morte de seu pai -- e a oferta de proteção do Imperador. Ele finalmente contou, e não foi fácil. Morgiah agarrou nela pelo que pareceu uma era, soluçando miseravelmente, enquanto Helseth correu para o jardim para ficar sozinho, mais tarde se recusando a todas as tentativas dela de falar com ele sobre o pai, ou de pelo menos para deixar ela segura-lo no peito.
Eadwyre chamou por ela enquanto ela estava lá. Ela o contou o que ela havia descoberto até então, explicando que ela tinha que ficar um pouco ainda e aprender o máximo que ela podia.
O Rouxinol brincou com ela sobre seu admirador idoso. Ele estava um tanto ciente da suspeita de Eadwyre -- mas ele não estava o mínimo perturbado, pois ninguém olhava para o velho tolo com seriedade. Barenziah até tentou arranjar algum tipo de reconciliação entre eles. Eadwyre retratou suas dúvidas publicamente, e seu “velho amigo” o Imperador, o perdoou. Ele foi mais tarde convidado para jantar com eles pelo menosmenosvez por semana.
As crianças gostavam de Eadwyre, até mesmo Helseth, que desaprovava a ligação da mãe com o Imperador e consequentemente detestava ele. Ele havia se tornado SURDLY e temperamental conforme os dias passaram, e frequentemente brigava tanto com sua mãe quanto com seu amante. Eadwyre não estava feliz com o fato também, e o Rouxinol tomou grande prazer em demonstrar abertamente sua afeição por Batenziah em tempos, apenas para provocar o velho.
Ele não podiam se casar, é claro, pois Uriel Septim já era casado. Pelo menos, não ainda. O Rouxinol havia exilado a Imperatriz pouco depois de tomar o lugar do Imperador, mas não ousou feri-la. Ela foi dada refúgio pelo Temple of the One. Foi dito que ela estava em más condições de saúde, e rumores foram circulados pelos agentes do Rouxinol de que ela possuia problemas mentais. Os filhos do Imperador também foram despachados para várias prisões por toda Tamriel, disfarçadas como “escolas.”
"Ela vai ficar pior com o tempo,” o Rouxinol disse descuidado, se referindo à Imperatriz e olhando os seios inchados e dilatada barriga de Barenziah com satisfação. “Quanto aos filhos… Bem, a vida é cheia de perigos, não é? Nós seremos casados. Seu filho será meu verdadeiro herdeiro.”
Ele não queria os filhos. Barenziah tinha certeza disso. Ela estava menos certa, contudo, sobre seus sentimentos por ela. Eles discutiam continuamente agora, frequentemente de forma violenta, normalmente sobre Helseth, que ele queria mandar para longue para estudar nas Ilhas do Semprestio, a província mais distante da Cidade Imperial. Barenziah não fez esforços para evitar essas brigas. O Rouxinol, contudo, não tinha interesse em vida suave, lisa; e além do mais, e del gostava de fazer as pazes depois...
Ocasionalmente Barenziah levaria as crianças e voltar para seu antigo apartamento, declarando que ela não queria mais nada com ele. Mas ele sempre iria buscar ela, e ela sempre se deixariabser levada de volta. Era infalível, como o nascer e se pôr das luas gêmeas de Tamriel.
Ela estava grávida de seis meses quando finalmente decifrou a localização da última peça do Cajado -- um fácil, já que todo Elfo Negro conhece onde o Monte de Dagoth-Ur era.
Quando ela brigou novamente com o Rouxinol, ela simplesmente saiu da cidade com Eadwyre e dirigiu rapidamente para Pedralta, e Pousatrilha. O Rouxinol estava furioso, mas havia pouco que pudesse fazer. Seus assassinos eram meio que incapazes, e ele não ousou deixar seu assentou de poder para persegui-los em pessoa. Nem podia também declarar guerra à Pousatrilha. Ele não possuia direito ldireito sobre seu filho por nascer. Verdade a forma, a nobreza da Cidade Imperial havia desaprovado sua ligação com Barenziah -- assim como fizeram tantos anos atrás de Tiber Septim -- e estava feliz de ve-la partir.
Pousatrilha era igualmente desconfiada dela, mas Eadwyre era fanaticamente amado por sua próspera pequena cidade-estado, e subsídios foram facilmente feitos para suas… excentricidades. Barenziah e Eadwyre se casaram um ano após l nascimento do seu filho do Rouxinol. Apesar desse fato importunio, Eadwyre adorava ela e seus filhos. Ela em seu lugar, não o amava -- mas ela gostava dele, e isso era alguma coisa. Era bom ter alguém, e Pousatrilha era um lugar muito bom, um lugar muito bom para as crianças crescerem, enquanto eles esperavam, e aguardavam, e oravam pelo sucesso do Campeão em sua missão.
Barenziah só podia ter esperança de que ele não levaria muito tempo, quem quer que esse Campeão sem nome fosse. Ela era um Elfo Negro, e ela tinha todo o tempo no mundo. Todo o tempo. Mas sem mais amor para dar, e sem mais ódio para queimar. Ela não tinha nada de sobra mais, nada além de dor, e lembrança… e seus filhos. Ela só queria cuidar de sua família, e dar a eles uma vida boa, e ser deixada para viver com o que restava dela. Ela não tinha dúvidas de que seria um vida ainda longa. E durante ela, ela queria paz, e quietude, e serenidade, de sua alma assim como de seu coração. Sonhos camponeses. Era isso que ela queria. Era isso que a verdadeira Barenziah queria. Era isso que a verdadeira Barenziah era. Sonhos camponeses.
Sonhos camponeses.